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Passo a passo

De vice de Lula à espera pela virada: a trajetória de Haddad

Reviravoltas marcaram campanha do petista, que espera por 'bala de prata' para se eleger

Giorgio Dal Molin
De vice de Lula à espera pela virada: a trajetória de Haddad
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
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O PT mudou de candidato aos 45 do segundo tempo. Com Lula preso na Polícia Federal de Curitiba e a candidatura do ex-presidente impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o então vice petista Fernando Haddad entrou em campo como protagonista para virar um jogo improvável.

No último dia para apresentar mudanças nas candidaturas, 11 de setembro, Haddad foi anunciado como cabeça de chapa. Manuela D’Ávila, que era candidata pelo PCdoB, embarcou como vice. O anúncio não foi surpresa: Haddad sempre foi o Plano B do PT. Como os petistas sabiam do risco de impugnação, o ex-prefeito de São Paulo dominava as propagandas eleitorais petistas.

Protagonismo antes da candidatura

Na TV, durante o horário eleitoral dos dias 1º e 4 de setembro, a voz do então candidato a vice serviu como fundo para imagens que exibiam apoiadores do ex-presidente na entrada Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

No dia 6 daquele mês, aumentou o protagonismo: lá estava Fernando Haddad, com o rosto enquadrado, durante 1 minuto e 45 segundos – três quartos do tempo destinado ao PT, de 2 minutos e 23 segundos.

Detalhe: o PT só podia mesmo apresentar o vice. Por determinação do TSE, como Lula estava inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa, não poderia ser apresentado na propaganda eleitoral como candidato a presidente, apenas como apoiador, e por até 25% do tempo. Na prática, era uma candidatura com vice e sem cabeça de chapa oficial.

Palavra da ONU

A proibição da candidatura de Lula foi ao limite. Haddad, antes e depois de ser cabeça de chapa, atuou como advogado do ex-presidente, realizando 16 visitas na carceragem da PF, em Curitiba.

A última esperança foi uma carta do Comitê de Direitos Humanos da ONU solicitando ao Estado Brasileiro “todas as medidas necessárias” para permitir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Operação Lava Jato, fosse candidato.

“É muito raro a ONU se valer de um tratado internacional para recomendar em prol dos direitos políticos. Tem pouquíssimos precedentes no mundo. Quando conseguimos, achávamos que tinha uma chance. E o TSE achou que não tinha validade e cassou o registro”, disse o candidato”, disse Haddad na última segunda (22).

Apenas o ministro Edson Fachin votou a favor da candidatura, o que gerou bate-boca e confusão entre os ministros do TSE.

Haddad vira Lula

Pelas regras da Justiça Eleitoral, os institutos de pesquisa são obrigados a fazer seus levantamentos de intenção de voto com todos os presidenciáveis. Ficava a critério, contudo, apresentar cenários alternativos.

Em um desses cenários, no dia 20 de agosto a pesquisa Ibope colocava Haddad com apenas 4% das intenções de voto*, em 5º lugar entre os presidenciáveis, um mês depois**, dia 18 de setembro, Haddad pulou para 19%. Como isso aconteceu?

Confirmado no pleito, Haddad seguiu durante todo o primeiro turno buscando colar a imagem ao ex-presidente. Na TV, em entrevistas como no Jornal Nacional, falou: “Boa noite, presidente Lula”. Em debates, fez a mesma coisa. Deu certo.

Se pouca gente sabia quem era Haddad em agosto, após ser formalizado candidato dia 11 de setembro, a campanha do PT começou a “martelar na cabeça do eleitor” a frase: Haddad é Lula. Entre os motivos do crescimento nas pesquisas, a esperada transferência de votos do ex-presidente aconteceu.

Haddad deixa de ser Lula

Após visitar Lula na cadeia por 16 vezes, a situação mudou no segundo turno. Lula orquestrava a campanha do PT até que, em 8 de outubro, um dia após o primeiro turno, o ex-presidente recomendou a interrupção das visitas.

Era hora de mudar a campanha: Haddad não era mais Lula, era o cara casado, tranquilo que toca violão. Até o material de campanha deixou de pender para o vermelho para ser verde, amarelo, azul e branco. O presidenciável justificou que a estratégia foi adotada em outras campanhas presidenciais: “O segundo turno não é mais o projeto de um único partido”.

A ideia era montar uma frente democrática. E até conquistou alguns aliados. O PDT de Ciro Gomes declarou apoio crítico, mas Haddad não contava com as declarações do irmão do presidenciável derrotado. O que era para ser um evento pró-Haddad dia 15 de outubro se tornou em um massacre de frases do senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), que chegou a dizer a um petista da plateia: “O Lula está preso, Babaca”.

“[O PT] tem de fazer um mea culpa, pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, disse Cid Gomes. “Não admitir os erros que cometeram é para perder a eleição. E é bem feito”, ressaltou para o naufrágio da frente democrática invocada por Haddad.

Dias antes, o adversário já nadava de braçada nas pesquisas do segundo turno. O levantamento Datafolha*** de 10 de outubro indicava Jair Bolsonaro com 58% das intenções de voto válidos, 16 pontos a mais que Haddad, com 42%. Na mesma noite das declarações de Cid Gomes, o Ibope havia divulgado outra pesquisa: 59% contra 41%****.

O drama do PT e a autocrítica

Ao longo da campanha, o próprio PT virou pedra no sapato de Haddad. Não era apenas Cid Gomes que pedia uma autocrítica do PT. O próprio coordenador da campanha no segundo turno, o senador eleito Jaques Wagner (PT-BA) disse que “certo grau de autoanálise não faz mal a ninguém” e tende a aproximar as pessoas. Ele chegou a admitir que seria melhor ter lançado Ciro Gomes na corrida presidencial.

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O desespero dos últimos dias

É comum: quem está atrás nas pesquisas, ataca o oponente em busca de aumento da rejeição adversária e tirar votos. Haddad se concentrou nas brechas deixadas por Bolsonaro e seus filhos, e os próprios integrantes da base bolsonarista.

Vice da chapa PSL-PRTB, General Mourão (PRTB) criticou o 13º salário. Deputado eleito com a maior votação da história, Eduardo Bolsonaro disse que “para fechar o STF basta um soldado e um cabo”. E Bolsonaro, claro – que sempre deu declarações polêmicas como ter a publicação Rompendo o Silêncio, do torturador coronel Brilhante Ustra, como livro de cabeceira e simulou “fuzilar a petralhada” no Acre.

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Diante desse cenário, Haddad disse temer pela própria vida e conquistou alguns aliados. Na última semana da campanha, veio o apoio (também crítico) de Marina Silva e, ainda que não explícito, o de Fernando Henrique Cardoso, que condenou as declarações da família Bolsonaro:

Inacreditável: um candidato à Presidência pedir às pessoas que se ajustem ao que ele pensa ou pagarão o preço: cadeia ou exílio. Lembra outros tempos. O que o Brasil precisa é de coesão no rumo do crescimento e diminuição da desigualdade.

— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) 22 de outubro de 2018

As declarações do dep. E Bolsonaro merecem repudio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas
cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra leis, a Constituição.

— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) 21 de outubro de 2018

 

Coincidência ou não, na pesquisa Ibope de 23 de outubro, falando cinco dias para o segundo turno, a diferença diminuiu de 18 pontos para 14 nos votos válidos. Resta saber se nesse domingo a diferença vai diminuir, aumentar ou o improvável irá acontecer.

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