A eleição das fake news: as mentiras que te contaram e os impactos na campanha
A corrida presidencial de 2018 foi marcada pelas fake news. Veja alguns dos boatos absurdos que circularam, e os seus impactos nas campanhas de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro
A corrida presidencial de 2018 tem uma marca inegável: as fake news se espalharam como fogo no mato seco. Houve muitos tipos de boatos, com gradações do nível de absurdo. De ofensas pessoais contra os candidatos e seus familiares às denúncias de fraude no processo eleitoral, não houve quem escapasse ileso – muito menos o eleitor. E tudo isso impactou nas campanhas: tanto Fernando Haddad (PT) quanto Jair Bolsonaro (PSL) recorreram à justiça com queixas variadas sobre fake news. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também quis agir: propôs uma reunião entre as campanhas para um pacto contra as notícias falsas. Perdeu o timing: a pouco mais de uma semana do segundo turno, a Corte demorou muito a agir e os efeitos foram parcos.
A Gazeta do Povo faz parte do Comprova, uma coalizão de 24 veículos de mídia que trabalham juntos para identificar notícias falsas e explicar porque elas são incorretas. Até o dia 26 de outubro, o projeto já havia publicado 145 verificações de boatos.
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Veja as notícias falsas que marcaram o segundo turno e os impactos nas campanhas
As fake news no TSE…
Na metade do segundo turno, a presidente do TSE, Rosa Weber, convocou uma reunião com os coordenadores jurídicos das campanhas de Haddad e Bolsonaro. A pauta: um pacto para combater as fake news. Antes mesmo de a reunião acontecer, conselheiros avaliavam que ela havia subestimado o impacto da proliferação das notícias falsas. Os pedidos feitos pela ministra foram de que os candidatos defendessem a integridade da Justiça Eleitoral, declarassem que não apoiam a disseminação de fake news e evitassem discursos de violência. A condução do caso por Rosa Weber rendeu muitas críticas de ministros e uma crise institucional.
… e nas campanhas
O PT já havia entrado na Justiça pedindo a remoção de conteúdo alegando fake news antes do primeiro turno. E isso continuou ao longo da campanha. O partido não ganhou todas, e teve alguns pedidos de remoção de conteúdo negados. Mas o tema pegou fogo quando a Folha de S.Paulu denunciou que empresas pagariam campanha contra o PT pelo WhatsApp. Haddad foi à Justiça, Bolsonaro foi cobrado a se explicar (e disse que sabia ser irregular, mas que não tinha controle sobre apoiadores), o WhatsApp baniu centenas de milhares de usuários para tentar conter as irregularidades na eleição e a PF segue investigando o caso.
Processo eleitoral questionado
No dia da votação no primeiro turno já começaram a pintar os primeiros boatos que indicavam fraudes na eleição. Nenhum foi comprovado. Um vídeo que usava lei matemática para alegar fraude nas eleições, por exemplo, foi verificado – e mais de um matemático foi ouvido. O veredicto: a Lei de Benford, o conceito matemático que baseia o vídeo, não é considerada algo sólido na literatura acadêmica para apontar se uma eleição foi ou não fraudada. Foi provado que eleitores que não conseguiram votar em determinado candidato à presidência não o fizeram porque digitaram o número na hora errada, quando deveriam votar para governador – no caso, não havia candidato com aquele número no estado. Os 7,2 milhões de votos nulos não indicam fraude em urnas. As urnas, aliás, foram alvo de muita boataria – e também de auditorias. Tanto no Paraná quanto em São Paulo, a conclusão das perícias, acompanhadas por representantes de partidos, é de que não havia indícios de fraude. Ah: o horário de verão neste ano foi modificado e só começará após a eleição. Por isso, ele não vai afetar as urnas eletrônicas.
Bolsonaro na mira
Bolsonaro não esconde de ninguém que quer conquistar o eleitorado do Nordeste. E duas notícias falsas contra o candidato tentaram minar as chances dele com esse público. O homem que aparece criticando nordestinos em um vídeo viral não é filho de Bolsonaro. E também é mentirosa a foto que mostra uma inscrição preconceituosa sobre nordestinos em camisa usada por Flávio Bolsonaro. A saúde de Bolsonaro também vem sendo questionada: após a facada, surgiu um boato de que ele teria câncer. É mentira. Um vídeo que mostra o médico do capitão falando “câncer de intestino” está fora de contexto – o médico menciona o termo, mas não faz um diagnóstico.
Haddad na mira
A ligação de Haddad com Lula pode ter sido deixada de lado na propaganda oficial, mas foi explorada nos boatos. Um vídeo em que Haddad falava de subir a rampa do Planalto com Lula foi retirado do contexto. A gravação era de agosto de 2018, antes de a candidatura de Lula ser barrada no TSE. O petista também foi atacado por um projeto que nunca propôs. Um meme dizia que Haddad tornaria a pedofilia um ato legal: é mentira. O projeto de lei em questão nada tem a ver com legalização da pedofilia e tramita no Congresso Nacional sob relatoria de um senador do PSDB. Haddad nunca foi parlamentar. Outro boato é o de que Haddad defendeu o incesto em livro. Não há informações sobre defesa do incesto no livro publicado por Haddad. Posteriormente, Olavo de Carvalho afirmou ter se equivocado e apagou a publicação.
Comparações indevidas
Uma corrente que comparava propostas dos planos de governo de Bolsonaro e Haddad também circulou muito pelo WhatsApp. Mas, cuidado: ela trazia pontos distorcidos ou incorretos, fora do contexto em que aparecem nos documentos. Explicamos as 11 propostas dos candidatos.
Ditadura distorcida
O tema ditadura militar veio à tona no segundo turno, e mentiras também apareceram. O PT usou o depoimento de Amelinha Teles, contando como havia sido torturada pelo regime militar. Pouco depois, surgiram memes que diziam que ela e o marido haviam assassinado militares: é mentira. O casal não cometeu esse crime e nunca foi acusado por matar militares. Eles foram detidos porque trabalhavam no núcleo de imprensa do PC do B.