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Ex-candidato

Qual o futuro de Haddad após a derrota nas urnas?

Avaliação interna da cúpula petista é que Fernando Haddad teve um desempenho surpreendente na reta final e se cacifa desde já para disputar a prefeitura de São Paulo novamente. Mas há quem acredite que ele deveria deixar a legenda

Débora Álvares, de Brasília
Qual o futuro de Haddad após a derrota nas urnas?
Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg
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Advogado, doutor em filosofia, professor, Fernando Haddad está longe de ter a mesma familiaridade com comícios e palanques de petistas tradicionais, menos ainda do seu padrinho político, Lula. Mas, mesmo derrotado por Jair Bolsonaro nas urnas, ele deixa a eleição de 2018 como forte candidato a uma outra disputa: a prefeitura de São Paulo daqui a dois anos.

A ideia tem sido ventilada entre líderes do partido que se surpreenderam com o desempenho de Haddad na campanha, apesar de ressalvas e resistências internas que o ex-prefeito ainda enfrenta. “Ele cresceu ao longo do caminho. Jogamos lá, no meio das pessoas para ver como ele se saía. E ele estava diferente, foi bem melhor do que esperávamos”, afirmou um petista que, por recomendação de Lula, “ficou de olho” nos passos do pupilo do ex-presidente.

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Haddad não diz nem que sim, nem que não. A essa e a nenhuma das outras possibilidades que lhe têm sido apresentadas. Aliados mais próximos a ele querem que ele saia do PT. “Tem muita gente contra ele aqui. Tudo bem que ninguém é unanimidade. Mas enfrentar uma campanha presidencial como ele enfrentou, com tanta gente querendo passar ele para trás não é brincadeira. O PT vive um momento de união, com a tentativa de voltar ao poder e livrar Lula. Mas ele pessoalmente teve que fazer vários dribles para chegar vivo nesse final”, afirmou um nome que acompanhou Haddad na caminhada, antes mesmo de ele ser chamado por Lula para trabalhar na eleição deste ano, bem antes, inclusive do líder partidário e padrinho político do ex-presidenciável ser preso.

Em 2016, quando foi derrotado de forma acachapante, em primeiro turno, nessa mesma disputa para o tucano João Doria, Fernando Haddad prometeu a si mesmo desistir da política. Cogitou abrir um escritório de advocacia, mas desistiu. Foi Lula, mais uma vez, quem o buscou. Assim como o procurou em 2011, quando o convenceu a disputar o cargo de prefeito da capital paulista em 2012.

Nas tantas entrevistas a rádios nordestinas que deu nos últimos dias – parte da estratégia da campanha de cercar a região –, o ex-prefeito paulistano chegou a dizer que, se fosse derrotado nessa disputa presidencial, voltaria a dar aulas – se licenciou da Universidade de São Paulo (USP) para a campanha. Mas também não bateu o martelo sobre que caminho seguirá.

“É certo que ele cresceu no PT. Conquistou novos espaços, mais pessoas. Continua tendo resistência? Nem o Lula é mais uma unanimidade”, comentou um senador do partido.

Num momento em que o partido enfrenta sua maior crise, a ascensão de um nome como Haddad, fora da trincheira radical, “pode ajudar a dar um novo ar”, avalia um outro petista, que completa: “Mas, claro, ele não tem o peso e a experiência de oposição que precisamos nesse momento”.

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“Do jeito que ele chegou nessa reta final, ele desponta, sem dúvidas, como uma liderança importante, um nome de força, que será procurado, lembrado, relevante para o partido nesse momento de crise e reconstrução”, rebateu mais um petista que acompanhou a reta final da campanha petista ao lado de Haddad.

Oposição a Bolsonaro

O futuro governo de Jair Bolsonaro vem sendo avaliado dentro do PT como “desconhecido”. E, mesmo antes do segundo turno, a ordem já era “fazer uma oposição firme, dura e contundente”.

São várias as lideranças petistas capazes e dispostas a encampar esse discurso. Mas apesar de ter sido Haddad a liderar a chapa presidencial e enfrentar, quem o ex-presidente Lula escolheu para liderar o papel de puxar a oposição no governo Bolsonaro é o senador eleito Jaques Wagner (BA).

O ex-governador era o preferido para encabeçar a chapa presidencial petista, mas por escolha pessoal preferiu garantir sua vaga no Senado. Ao lado dos outros cinco parlamentares da Casa, Wagner deve fazer ecoar o discurso petista já ensaiado desde o impeachment, que deve ganhar ressonância maior e um novo enredo com Bolsonaro: “golpe”, “antidemocrático”, “governo ilegítimo”.

Claro que haverá concorrência interna pela liderança da oposição. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), quer disputar a Presidência da Câmara e pretende ser uma das principais vozes da oposição no Congresso.

Haddad e sua construção

O ex-presidenciável se filiou ao PT em 1983, mas só entrou na vida partidária quando se lançou à prefeitura de São Paulo. Ainda assim, era considerado até pouco tempo, um “semi-petista”. “Agora sim podemos dizer que ele vestiu a camisa”, brincou um outro nome do partido.

Quando a candidatura caiu no colo de Haddad, que sabia não ser o preferido de ninguém, nem mesmo de Lula, ele precisou ser cacifar sozinho. Deu início a uma aproximação com nomes dos quais tinha se afastado, como o-prefeito de Osasco Emídio de Souza, hoje tesoureiro do PT, e o ex-ministro Luiz Dulci.

Tentando quebrar mais algumas barreiras, ingressou na corrente majoritária do partido, Construindo um Novo Brasil (CNB), com que ele mais havia se indisposto quando prefeito de São Paulo. Mas manteve conversas frequentes com outra, a ala Mensagem ao Partido, da qual fazem parte o ex-governador Tarso Genro e o ex-ministro José Eduardo Cardozo.

Em mais um movimento para se livrar das amarras internas, renovou sua carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tornou-se advogado de Lula, e assim pôde ter contato direto com o ex-presidente, sem precisar passar pela blindagem de Gleisi ou dos demais defensores.

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Em 11 de setembro, foi confirmado na cabeça da chapa e, no foco, ao mesmo tempo em que viu os votos dito “lulistas” migrarem para si, acompanhou também um aumento de sua rejeição.

Passou ao segundo turno com a intenção de formar um bloco democrático contra Bolsonaro, o que foi por água abaixo. Sua campanha só decolou nos últimos dias, quando houve reações Brasil afora a declarações polêmicas do presidente eleito, dos filhos e aliados.

Conseguiu apoio de artistas, de Marina Silva, do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e até do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, além de parte do PSDB, como o ex-presidente da sigla Alberto Goldman. A diferença para o adversário caiu. Mas não foi suficiente para a vitória.

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