No 2º maior colégio eleitoral, Romeu Zema é o primeiro governador eleito pelo Novo
Governador Eleito por Minas Gerais, Empresário Romeu Zema saiu de 4% das intenções de voto no primeiro turno para vencer com praticamente 70% dos votos válidos em Minas Gerais
O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais ainda nem terminou a contagem de votos do 2º turno, mas Romeu Zema (Novo) já é o vencedor. Com 83% das urnas apuradas e 71,28% dos votos até o momento, ele não pode mais ser alcançado por Antonio Anastasia (PSDB).
Empresário, Zema é o primeiro governado do Partido Novo, do presidenciável derrotado João Amoêdo. Romeu Zema saiu de 3% das intenções de voto em agosto para 43,7% dos votos totais no primeiro turno na disputa pelo governo de Minas.
A ascensão foi rápida e aconteceu após, no último debate do primeiro turno, realizado pela afiliada da Rede Globo em Minas Gerais, Zema utilizar o tempo de considerações finais para pedir que o eleitor votasse em João Amoêdo, candidato do Novo à presidência, ou em Jair Bolsonaro (PSL). Ele chegou a ser repreendido pelo Novo, que considerou a fala “inaceitável” e chegou a emitir uma nota afirmando que Zema cometeu “infidelidade partidária”. Mesmo assim, Zema conseguiu garantir sua passagem para o segundo turno no estado.
Para Leonardo Barbosa e Silva, professor de ciência política na Universidade Federal de Uberlândia, dois fatores explicam a explosão de votos em direção a Zema nos últimos dias antes da votação. “O primeiro é ele ter se vinculado, bem na reta final do primeiro turno, ao candidato Jair Bolsonaro [PSL]. Ele tentou nacionalizar o embate em Minas Gerais”, explica. “No momento em que o Zema se liga à candidatura nacional, sendo que o PSDB não fazia isso, ele tentou trazer para si o anseio da população que se filiou à campanha de Bolsonaro”, completa.
Traição de caciques impulsiona candidatura
Outro fator que explica a ascensão de Zema na reta final, segundo Silva, é menos explícito. “Vários caciques locais em Minas Gerias saltaram do barco do PSDB e colocaram suas máquinas para funcionar a favor do Zema”, explica.
Importantes figuras políticas no estado, membros do PP, PSB e até do PSDB e DEM passaram a apoiar a candidatura do empresário em detrimento de Anastasia, aliado histórico das siglas em Minas Gerais.
Esse fenômeno, inclusive, não ficou restrito ao estado. Partidos que estavam coligados com Geraldo Alckmin (PSDB) no plano nacional também “traíram” o tucano e passaram a fazer campanha para Lula (PT) e, posteriormente, para Fernando Haddad (PT), principalmente no Nordeste.
Trajetória das pesquisas
Na primeira pesquisa divulgada depois do registro das candidaturas, em agosto, Anastasia aparecia com 48% das intenções de votos válidos, seguido por Pimentel, que tinha 29%. Zema, nesse levantamento, tinha apenas 7%.
O empresário cresceu significativamente na véspera da eleição, quando alcançou 23% dos votos válidos, segundo o Ibope, empatado tecnicamente com Pimentel, que tinha 25%. Anastasia, nesse levantamento, tinha 42% das intenções de votos válidos.
A pesquisa boca de urna divulgada no fim da tarde do dia 28 de outubro, pelo Ibope, mostrava Zema com 66% dos votos válidos, contra 34% do adversário Antonio Anastasia.
Mandato servirá de vitrine e teste para o Novo
Zema provavelmente será eleito no segundo turno para comandar Minas Gerais – um estado estratégico do ponto de vista nacional – pelos próximos quatro anos. O empresário é o único candidato do Novo com chances de se eleger para um cargo executivo nesse ano.
“Ele vai ser um balão de ensaio do Novo dentro de gestões no executivo no Brasil. O que ele fizer ou deixar de fazer vai contribuir para o futuro do partido”, ressalta o professor de ciência política.
Uma vez no governo, Zema vai precisar se submeter ao sistema partidário no estado e formar alianças na Assembleia Legislativa para conseguir governar. “Vai ser um momento de teste, inclusive de discurso, do Novo”, alerta Silva.
Desde que o partido foi criado, os dirigentes da sigla insistem que não aceitarão recursos do Fundo Partidário e não concordam com o sistema de governo que classificam como “toma lá, dá cá”, em que o Executivo negocia cargos com o Legislativo em troca de apoio.
Liderança do partido desafiada
Zema usou como estratégia para chegar ao segundo turno o apoio a Bolsonaro e foi repreendido publicamente pelo partido. Agora, pode se tornar um cacique dentro da legenda, por ser o único filiado a conquistar um cargo no Poder Executivo, e em um estado importante do ponto de vista estratégico – Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país.
“Ele tem mais de 70% da expectativa de voto. Isso cacifa em um estado que é estratégico para o país. Isso afaz com que ele seja imediatamente alçado a um importante quadro do partido”, destaca Silva.
O candidato que disputou a eleição presidencial pelo partido, João Amoêdo, também é empresário. Ele chegou a ser criticado durante a pré-campanha por tratar a legenda como uma empresa na qual ele seria o proprietário. Agora, deve ter sua liderança desafiada por Zema.
“O Zema não é um homem de partido, ele é um empresário”, ressalta Silva. O perfil ‘não político’, inclusive, ecoa para outros quadros da legenda. “Vamos ver duelos de empresários dentro de uma máquina partidária”, profetiza o professor de ciência política.
Afinal, quem é Romeu Zema?
Zema é natural de Araxá, em Minas Gerais, e é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Ele é um dos donos do Grupo Zema, rede de varejo com 430 lojas em seis estados do Brasil que fatura R$ 4,5 bilhões por ano. Ele foi presidente do Conselho de Administração do grupo, que atua em segmentos como moda, postos de combustíveis, móveis e eletrodomésticos. Segundo o empresário, a rede tem 5,5 mil funcionários.
O candidato declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma lista de bens majoritariamente composta por investimentos e participações societárias. O patrimônio declarado é de R$ 69,7 milhões.
Metodologias
29 de agosto: Pesquisa realizada pelo Ibope de 24/ago a 26/ago/2018 com 1204 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: Rede Globo. Registro no TSE: MG-07647/2018 . Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
12 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00240/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
17 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 14/set a 16/set/2018 com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-09508/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
27 de setembro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 24/set a 26/set/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-05657/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
2 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 29/set a 1/out/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00237/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
6 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 4/out a 6/out/2018 com 2.002 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-01559/2018. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Confiança: 95%.
7 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope/Boca de Urna em 7/out com 3.200 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: IBOPE INTELIGENCIA PESQUISA E CONSULTORIA . Registro no TSE: MG-03349/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 99%.
17 de outubro: Pesquisa realizada pelo Ibope de 15/out a 17/out/2018 com 1.512 entrevistados (Minas Gerais). Contratada por: REDE GLOBO. Registro no TSE: MG-00033/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
28 de outubro: Pesquisa boca de urna realizada pelo Ibope no dia 28/out com 3.200 pessoas. A pesquisa foi registrada no TRE-MG com o número MG-01759-2018 e no TSE com o número BR06445/2018.