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Cobertura internacional

A reação internacional à vitória de Jair Bolsonaro

Vandré Kramer e Helen Mendes
Câmeras em frente a poster do presidente eleito Jair Bolsonaro,. Foto: Dado Galdieri/ Bloomberg
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Assim que saíram os primeiros resultados que apontaram a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT), os principais jornais e sites de notícias do mundo repercutiram a notícia.

Estados Unidos

O The New York Times qualificou a eleição de Bolsonaro como a de um populista estridente na mais radical mudança política desde que a democracia foi instaurada há mais de 30 anos. “O Brasil no domingo tornou-se o último país a dar uma guinada à extrema direita.” Ele ganhou em meio a um profundo ressentimento em relação ao status quo – um país atingido pela criminalidade crescente e dois anos de turbulências políticas – e se apresentando como uma alternativa.

Bolsonaro que comandará o maior país da América Latina está mais à direita do que qualquer presidente na região, cujos eleitores conduziram líderes mais conservadores na Argentina, Chile, Peru, Paraguai e Colômbia. Segundo o Times, ele se uniu a um grupo de líderes de extrema direita que chegaram ao poder  no mundo, incluindo o vice-primeiro ministro italiano, Matteo Salvini, e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria.

Segundo a CNN, uma prolongada recessão, a crescente insegurança e um grande escândalo de corrupção que atingiu políticos, empresas e instituições financeiras estiveram entre os temas considerados prioritários pelos eleitores durante a campanha. Bolsonaro que tem sido comparado ao presidente americano Donald Trump e o das Filipinas, Rodrigo Duterte, causou controvérsia por declarações misóginas, racistas e homofóbicos. Um dos temores é que a eleição leve a mais discriminação e a crimes de ódio.

O Washington Post aponta que Bolsonaro fez uma campanha no mesmo estilo de Trump, que ganhou as eleições americanas em 2016, com uso maçico das mídias sociais e prometeu renegociar os termos dos acordos comerciais, colocar a economia à frente de preservação ambiental e usar mão de ferro na luta contra o crime. Ele demonizou oponentes e denegriu mulheres, homossexuais e minorias. “O que mais quero é seguir os desígnios de Deus e a Constituição brasileira”, disse Bolsonaro por meio de uma live no Facebook após a vitória. “Nós temos tudo para sermos uma grande nação, e se este for o desejo de Deus, nós seremos uma grande nação.

A agência de notícias AP ressaltou que Jair Bolsonaro, um congressista de extrema-direita, ganhou a eleição em meio a advertências de que o ex-capitão do Exército poderia erodir a democracia e abraçar a possibilidade de uma mudança radical depois de anos de agitação. O presidente eleito, que durante a campanha prometeu “limpar” o Brasil e trazer de volta “valores tradicionais”, disse que respeitará a Constituição e as liberdades pessoais. Ele disse que não eram apenas as palavras de um homem, mas uma promessa a Deus. A AP qualificou a eleição de Bolsonaro como o fruto de uma tempestade perfeita no Brasil. Ele traduziu uma fúria contra uma classe política em meio a anos de corrupção, a luta de uma economia pela recuperação após uma severa recessão e o aumento contra a violência.

Segundo a Reuters, o parlamentar de extrema-direita ganhou a eleição presidencial neste domingo em meio a uma onda de frustração sobre corrupção e crime que levou a uma mudança dramática para a direita na quarta maior democracia do mundo. “Não podemos continuar flertando com o comunismo… Nós temos de mudar o destino do Brasil”, disse Bolsonaro. Ele também afirmou que vai levar adiante suas promessas de campanha de combater a corrupção após anos de governo esquerdista.

O Wall Street Journal apontou que Bolsonaro se comprometeu a inciar uma nova era de “ordem e progresso”, atraindo eleitores ricos e pobres que estão fartos da corrupção endêmica e aterrorizados pela criminalidade crescente. “Depois de décadas, o Brasil finalmente tem a oportunidade de eleger um presidente que realmente compartilhe os valores dos brasileiros”, disse Bolsonaro em uma de suas últimas mensagens no Twitter antes das eleições. “Será um novo Dia da Independência.”

A Bloomberg destacou que Bolsonaro fez com com que o Brasil se movesse em direção à direita com a promessa de abrir os recursos da economia ao investimento privado, de reforçar os laços com os Estados Unidos e desencadear uma campanha agressiva contra uma “epidemia de crimes”.

Alemanha

A emissora alemã DW afirmou que o Brasil está à beira de uma mudança política com a eleição do “político de ultradireita Jair Bolsonaro”. O texto afirma que a votação é vista como um teste de democracia na maior economia da América Latina, marcada por escândalos políticos e miséria econômica. A emissora internacional alemã destaca que muitos descrevem Bolsonaro como o “Trump brasileiro”, e que o candidato causou indignação durante a campanha por causa de declarações “misóginas, racistas e homofóbicas” e por ter expressado admiração pela ditadura militar do Brasil.

O Süddeutsche Zeitung e o Frankfurter Allgemeine Zeitung afirmaram que a eleição do “Trump dos Trópicos” poderia levar a uma mudança política radical no Brasil. O jornal destaca que o ex-paraquedista militar pretende facilitar o acesso a armas, ocupar ministérios importantes com militares e provavelmente sair do acordo do clima de Paris.

O jornal alemão Die Welt afirmou que os brasileiros deram um duro tapa na cara da casta tradicional política do país e elegeu o populista de direita Jair Bolsonaro como seu presidente. O veículo relatou algumas das declarações polêmicas do presidente eleito, e afirmou que elas foram uma preocupação menor dos eleitores, que tinham grande desejo de mudança após escândalos de corrupção. Segundo o jornal, Bolsonaro prometeu soluções fáceis para a onda de violência que assola o Brasil, como legalizar a posse de armas, diminuir a maioridade penal e encorajar ações policiais mais duras. Ainda, a publicação relata que defensores dos direitos humanos estão preocupados com um possível aumento da violência contra homossexuais, negros e indígenas.

Em seu site, a revista semanal alemã Der Spiegel publicou a declaração de Bolsonaro para seus apoiadores após a vitória: “Nós vamos mudar o destino do Brasil”. A publicação afirmou que, segundo o Partido dos Trabalhadores, houve mais de 50 ataques contra partidários do PT e membros de associações de gays, lésbicas e transgêneros nos últimos dias. O Spiegel publicou um vídeo intitulado “Racista e homofóbico – por que Bolsonaro ainda assim tem sucesso”.“A vitória eleitoral de Bolsonaro é vista como uma ameaça à ainda jovem democracia brasileira. No entanto, o político não pode governar de maneira totalmente sem controle: No Brasil, antes de cada votação importante no Congresso, o presidente deve renegociar a maioria do governo”.

Reino Unido

Segundo a The Economist, a tradicional revista britânica defensora do liberalismo, apontou em sua última edição que a vitória de Bolsonaro imporá um desafio ao Brasil: assegurar que um presidente com impulsos autocratas não subverterá a democracia brasileira. “O Brasil é uma relativamente jovem democracia. A ditadura terminou em 1985. Mas não é uma democracia fraca, apesar dos brasileiros verem o congresso como uma coleção de partidos corruptos de aluguel. Ela tirou dois presidentes por meio do impeachment e pode proporcionar um controle vital sobre Bolsonaro. O judiciário mostrou a sua independência nos últimos quatro anos por meio das investigações da Lava Jato, que implicou diversos políticos e levou à prisão do líder do PT e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A imprensa também está desafiando Bolsonaro, que, assim como Donald Trump, a acusa de espalhar fake news.”

O The Guardian aponta que Bolsonaro, um controverso admirador de ditadores, disse: “nós vamos mudar o destino do Brasil” e que um extremista de direita, favorável às armas e um populista favorável à tortura foi eleito após uma eleição dramática e divisiva que deve reforjar radicalmente o futuro da quarta maior democracia mundial. “Jair Bolsonaro construiu sua campanha com base na luta contra a corrupção, o crime e uma suposta ameaça comunista. “Não podemos continuar flertando com o comunismo. Nós vamos mudar o destino do Brasil.”

O The Independent destacou que milhares de apoiadores de Bolsonaro – que foi chamado de “Trump dos Trópicos” – comemoraram e explodiram fogos de artifício em frente à casa da Bolsonaro, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, assim que a vitória foi anunciada. Na capital econômica do Brasil, São Paulo, aponta o site britânico de notícias, a vitória do candidato do PSL foi saudada com fogos de artifício e buzinaço de carros.

O Financial Times qualificou a vitória de Bolsonaro como sendo uma mudança em direção à direita. Os eleitores protestaram contra o declínio econômico e contra a corrupção na maior economia da América Latina. O jornal financeiro disse que a eleição foi uma das mais extremas, dividindo esquerda e direita e afastando famílias e comunidades, com os dois lados argumentando que a jovem democracia estaria em xeque caso o adversário vencesse. Partidários de Bolsonaro, um ex-capitão com uma plataforma de conservadorismo social e liberalismo econômico, sinalizaram para o envolvimento do PT em escândalos de corrupção e seu apoio a governos autoritários de esquerda na região.

Espanha

O site de notícias espanhol El País considerou essa a eleição “mais polarizada, tensa e violenta em décadas” e afirmou que os dois candidatos tiveram uma campanha marcada por tensão, triunfo da desinformação nas redes sociais e “pelas atitudes antidemocráticas de Bolsonaro”. O jornal descreveu o presidente eleito como um homem duro sem freios na língua, um estilo que tem feito sucesso atualmente, “como o americano Trump, o húngaro Orban, o russo Putin, o filipino Duterte e o turco Erdogan”.  Segundo o El País, o capitão da reserva conseguiu capitalizar com a indignação de grande parte dos brasileiros e o desencanto com a classe política, se apresentando como um exemplo de limpeza, e seguindo a cartilha nacional populista ultraconservadora para se converter em fenômeno político.

O jornal espanhol El Mundo disse que o ex-capitão do exército se tornou o primeiro presidente de extrema direita desde a redemocratização do Brasil, e ressaltou as declarações polêmicas e “estilo autoritário” de Bolsonaro, o comparando com o norte-americano Trump e o italiano Matteo Salvi.
A matéria do El Mundo diz que o novo presidente terá que governar para uma sociedade profundamente dividida entre os que o consideram “uma esperança” para que o Brasil volte a crescer e confiam que ele vai “limpar as instituições da corrupção”, e os que o veem como “um pesadelo” e temem um governo militarista que restrinja os direitos democráticos e aprofunde as desigualdades sociais.

O jornal espanhol ABC afirmou que o novo presidente eleito do Brasil venceu as eleições mais disputadas em três décadas, prometendo “liberar o uso de armas e a proibição da pluralidade de ideias nas escolas, para as quais propôs a implantação de um modelo militar”. O ABC destacou ainda a tensão do período da campanha, relatando o atentado sofrido por Jair Bolsonaro e o assassinato de Charlione Lessa Albuquerque, 23 anos, morto a tiros dentro de um veículo quando participava de uma carreata em favor de Haddad, no Ceará. O artigo descreve ainda os apoios recebidos pelos candidatos de figuras públicas.

A agência de notícias espanhola EFE deu destaque para a primeira manifestação pública de Bolsonaro, que declarou “vamos juntos mudar o destino do Brasil”.

França

O Le Monde destacou a promessa de Bolsonaro de defender a Constituição, de democracia e de liberdade. “Não é a promessa de um partido, nem a vã palavra de um homem, mas um juramento perante Deus”, disse. Ele qualificou presidente eleito como um militar da reserva, às vezes grosseiro, às vezes racista e homofóbico, que encarnou o candidato antissistema. E lembrou que a facada que ele levou, em 6 de setembro, foi um ponto de inflexão na campanha.

Outro jornal francês, o Le Figaro destacou que o ex-capitão do exército assumirá suas funções em janeiro, em meio a um Brasil extremamente polarizado depois de uma campanha tensa. “Apesar de suas declarações racistas, misóginas e homofóbicas, Jair Bolsonaro seduziu milhares de eleitores com um discurso relacionado à falta de segurança que tem atingido os lares.” A publicação disse as tendências políticas são fluidas, como demonstram suas frequentes mudanças ao longo dos anos. “Apesar de admitir que não entende de economia, conseguiu ganhar a confiança do mercado graças a seu guru, Paulo Guedes, um “Chicago boy” – referindo-se à Universidade de Chicago, um dos centros acadêmicos do liberalismo – a quem quer converter em um superministro.

A agência de notícias AFP disse que Bolsonaro foi eleito com uma mensagem de mudar o destino do Brasil, graças a uma votação de mais de 57 milhões de eleitores.

Portugal

Segundo o jornal Público, o presidente eleito Bolsonaro promete “democracia e liberdade”, tendo deixado Haddad a uma distância superior a 10 milhões e a dúvida é se conseguirá unir o polarizado.”Este é um país de todos nós, um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações”, enfatizou o presidente eleito. Ele também garantiu que seu “governo será defensor da Constituição, da democracia e da liberdade.” O articulista Jorge Almeida Fernandes diz que a eleição não foi uma surpresa. “Mas também nada assegura de sólido. O Brasil deu um salto no escuro. Hoje é o dia das perguntas e não o das respostas. É necessário observar o clima dos próximos dias.”

O Diário de Notícias destacou que Bolsonaro citou a Bíblia e promete colocar o Brasil no lugar que o país merece no mundo. Também destacou os livros que estavam na mesa do presidente eleito: a Bíblia; a Constituição do Brasil; “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill; e o “Mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, do filósofo Olavo de Carvalho.

Outro jornal português, o Jornal de Notícias, destacou o perfil de Bolsonaro: “ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se em um líder capaz de mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão econômica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo que as lideranças políticas tradicionais do país têm sido envolvidas em escândalos de corrupção.

Itália

O diário italiano Corriere della Serra listou “oito coisas a saber” sobre o futuro presidente brasileiro, incluindo detalhes sobre a sua origem italiana; a sua “péssima carreira militar” – segundo o jornal italiano, apesar das declarações de amor pelas instituições, Bolsonaro era “um militar muito ruim”. “Rebelde e indisciplinado. Sua carreira terminou praticamente aos 32 anos, com o posto de capitão, depois de ter liderado uma rebelião para conseguir aumentos salariais”, afirmou o Corriere, que ainda traz detalhes sobre os casamentos e a família do presidente eleito.

O jornal italiano La Reppublica descreve a vitória de Bolsonaro como uma mudança radical para o Brasil, que depois de 13 anos à esquerda, passa para a “extrema direita”. “Lula está esquecido, preso na cadeia. Com ele, o odiado Partido dos Trabalhadores, que todos consideram responsável pelo desastre econômico e social em que o país se afundou”. O La Reppublica informa ainda que a direita venceu na maior parte do país, com 13 governadores eleitos, e que apenas no nordeste o candidato da esquerda ainda resiste. O diário republicou também um vídeo em que Bolsonaro agradece o vice-primeiro-ministro italiano Salvini e promete “o nosso presente para a Itália será [Cesare] Battisti”.

Argentina

O argentino Clarín disse que a campanha de Bolsonaro se baseou em denúncias contra a corrupção petista e na insegurança. O jornal destacou declarações do presidente eleito após a vitória, como a promessa de que o seu governo colocará a maior economia da América do Sul “em um lugar destacado” e o seu compromisso de “seguir a Constituição brasileira, a democracia e a liberdade”.
O jornal ainda informou que o candidato derrotado Fernando Haddad não felicitou o presidente eleito e não fez uma autocrítica sobre sua derrota.

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