Pleito de 2018 marca fim do domínio da polarização PT-PSDB nas eleições
O fim da polarização entre PT e PSDB na eleição deste ano desperta inúmeras análises entre os congressistas. A maioria fala que tucanos precisam se repensar
Débora Álvares
A polarização que o eleitor se acostumou a ver nas cinco últimas eleições presidenciais, com PT e PSDB na disputa de segundo turno, está longe do cenário deste ano. Com os tucanos alijados do embate final, e a extrema-direita ocupando o seu lugar no embate com a esquerda, a legenda se enfraquece, mas as consequências vão muito além da sigla.
Para políticos do Congresso Nacional, uma coisa está clara: o PSDB vai precisar encarar mudanças. Alguns acham que é prenúncio do fim do partido. Outros acreditam que ele terá que se unir a outras legendas da direita ou centro-direita. As opiniões são diversas.
Filiado ao PSDB há 30 anos, o deputado federal Marcus Pestana (MG) avalia o movimento como parte “da dinâmica democrática”, mas evitou fazer previsões futuras sobre o que pode estar por vir após o fim da eleição. “Muita água vai rolar até lá. Depois então…”. Na visão dele, um dos principais nomes da ala aecista do partido, o baixo desempenho do PSDB e a ascensão bolsonarista tem origem “na crise avassaladora iniciada nos últimos anos, não só econômica, mas política, que deixou a população desacreditada como um todo”. Mas o que será do partido, não quis dizer.
Dando continuidade ao raciocínio do tucano sobre a derrocada do PSDB, o deputado federal delegado Francischini (PSL-PR) acredita que os problemas recentes somados foram a base para “o surgimento de uma nova direita”.
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O parlamentar é um dos aliado mais próximos de Jair Bolsonaro (PSL), que, segundo a apuração de 99,89% das urnas, vai ao segundo turno com 46,06% contra Fernando Haddad, do PT, com 29,24%. “O PSL vai ser um embrião, vai eleger muitos deputados federais, vai ser uma nova polarização com a esquerda e os partidos satélites a ele”, acredita o congressista.
Também aliado ao capitão do Exército, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) fala em “um novo momento” para o país, diferente das “pirotecnias imaginadas por grupos políticos como PT e PSDB”.
Do lado do PT
Passando aos aliados de Haddad, o senador reeleito por Pernambuco Humberto Costa (PT) fala em “reorganização político-partidária”. Para ele, o PSDB perde protagonismo político a partir do resultado da eleição. Com 99,89% das urnas apuradas, Geraldo Alckmin ficou com 4,76% de votos no primeiro turno. “O mais provável é que setores do PSDB, junto com outros partidos, caminhe para a construção de uma nova legenda que possa adquirir novamente um papel no nosso país, já que esse segmento de centro-direta, ou de centro, fica de certa forma sem uma representação partidária adequada”, avaliou o petista.
Com uma visão mais radical, o também apoiador do candidato petista deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou o momento como uma “falência” dos tucanos. “É um partido fragmentado, sem liderança, sem programa, sem identidade. A população não perdoou a hipocrisia dos tucanos. A receita dos tucanos é de políticas do governo que retira direitos, anti-povo. O PSDB já faz parte do museu da história política brasileira depois da eleição 2018”, assinalou.
Em uma via diferenciadas, o colega da Câmara dos Deputados Lúcio Vieira Lima (MDB-BA) acredita que o Congresso ficará sem um partido majoritário, independente de quem vença a eleição. “Vai ser o mesmo filme de sempre. Um governo de coalização ou de cooptação. Ninguém sai com tranquilidade para governar”.
Também com outro olhar, Chico Alencar (PSOL-RJ) acredito que o fim dessa polarização já vinha se manifestando desde as eleições municipais de 2016, o que revela “um eleitorado em trânsito, em transe”. “Avalio que ainda levará tempo essa confusão. A única clareza que temos é que está tudo nublado à nossa frente e o sistema partidário está derretendo nesse contexto todo”, concluiu o deputado.
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Além da política partidária
A líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS), fez uma outra avaliação. Para ela, nos últimos tempos, o que se viu foram pessoas representando partidos, o que “é muito ruim para a democracia”. “Não existe democracia forte sem partidos políticos fortes. Partidos robustos garantem aos cidadãos a segurança dos projetos pragmáticos ou dogmáticos de cada legenda”. Nesse sentido, ela menciona, por exemplo, o ex-presidente Lula e, agora, Bolsonaro.
“O PSDB só representava o partido que fazia oposição à esquerda. Poderia ser qualquer outra legenda. O que estamos vendo é um cenário de PT versus anti-PT, ou quem for que represente o antipetismo ou o antilulismo. Uma vez que Lula personalizou uma legenda, hoje nós temos a personificação, no caso com o Bolsonaro, fazendo o papel dessa oposição”, fala a senadora ao explicar porque o PSL tomou o lugar do PSDB.