Líderes e fundadores do partido admitem: PT deixa a eleição rachado e menor

O PT deixa a eleição de 2018 menor, rachado e sedento por um novo rumo. Essa conclusão foi relatada por dirigentes do partido, embora o esforço público seja demonstrar coesão e força após o fôlego na reta final da campanha presidencial.

“É claro que há uma grande e grave divisão nunca antes vista no PT”, afirmou um dos fundadores da legenda, que esteve ao lado do ex-presidente Lula – hoje preso em Curitiba – “em muitos momentos de glória”, e acabou acompanhando o pupilo do líder partidário tornando-se um dos nomes mais próximos do agora concorrente derrotado.

“Não há dúvidas de que os grandes partidos precisam encontrar novos caminhos. A política está diferente, viveremos momentos complexos no Congresso, com um governo que ninguém sabe ainda como será. O PT não escapa a isso. Aliás, começamos a viver esse momento antes, mas faltou uma aceitação”, completou outra figura respeitada internamente na legenda.

Há uma percepção geral entre petistas de que Fernando Haddad conseguiu dar uma guinada quase salvadora neste segundo turno. E desponta como uma liderança importante no partido – há quem já fale nele para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2020.Contudo, o discurso de Haddad após a oficialização da vitória de Jair Bolsonaro (PSL) é mais uma prova da profunda divisão vivida no PT.

“Nós representamos uma parte expressiva do povo brasileiro, que precisa ser respeitada neste momento. Diverge da maioria, tem outro projeto de Brasil na cabeça. Merece respeito”, afirmou, mesmo sem mencionar o adversário eleito.

Tensão entre líderes petistas

Enquanto falava em respeito, a presidente da sigla e deputada federal eleita, Gleisi Hoffmann, postava em suas redes sociais mensagens sobre “resistência”:

“Nesta noite de 28 de outubro nossa primeira palavra para o povo brasileiro é: resistiremos. Resistiremos em defesa dos direitos, das liberdades da soberania! Um processo eleitoral construído em cima de impedimentos, mentiras, distorções, caixa dois vai nos impulsionar a lutar mais”.

Discurso semelhante ao do deputado federal reeleito Paulo Pimenta (RS), também pelas redes sociais: “Nossa democracia, nossa soberania e os direitos e garantias do nosso povo estão em risco. Mais do que nunca nosso desafio será organizar a resistência. Vai ter luta. Jamais nos acovardaremos aos fascistas e seus prepostos”.

Redefinição de estratégia

O PT já começou a convocar reuniões dos diretórios regionais para essa semana com a intenção de alinhar discursos, estudar estratégias, mas especialmente de avaliar erros. A orientação de conversar, reorganizar, mobilizar e redirecionar forças partiu de dentro da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, do ex-presidente Lula.

Quem esteve com Lula no sábado (27), quando comemorou aniversário, diz que ele esperava uma derrota dentro dessa margem. Mas avaliou que o pupilo se saiu muito bem, cresceu na reta final, conseguiu deslanchar e se destacar.

Para a esposa de Fernando Haddad, Ana Estela, o discurso de defesa da democracia que ele encampou especialmente na última semana, motivado pelos movimentos de Jair Bolsonaro e aliados, o ajudaram a crescer. “Ele sempre foi um apaixonado pela democracia, pela Constituição, pela defesa social”.

Estela estava ao lado de Haddad enquanto ele discursava neste domingo, como ao longo de toda a campanha. Ela, os filhos e a mãe do petista. A família o acompanhou e foi o refúgio do Fernando, o “Nando”, o “Nandão”, nos poucos momentos de folga dos últimos três meses.

Os familiares confirmaram ainda antes do resultado que estariam com ele na festa “da virada” que aconteceria independente do resultado, assim como artistas que fizeram campanha para o professor, nomes da cena cultural brasileira, integrantes do partido e de outras legendas aliadas e que declararam apoio. “Porque seremos resistência, porque temos o que comemorar, porque não podemos baixar a cabeça”, disse mais um integrante da campanha logo após a fala de Haddad.