A Gazeta antes da Gazeta e a tradição de habeas corpus a corruptos
Antes da Gazeta do Povo nascer em 1919, o Partido Republicano de Curitiba já havia criado um jornal de mesmo nome que circulou por quatro anos sob a direção de Nestor de Castro
Luan Galani, especial para a Gazeta do Povo.
Antes mesmo dos advogados Benjamin Lins e Oscar De Plácido e Silva criarem a tradicional Gazeta do Povo em 1919 para difundir ideias, vozes, anseios e necessidades da sociedade curitibana, um diário de mesmo nome circulou pelas ruas paranaenses de 1896 a 1900. Como atesta o arquivo da Biblioteca Nacional, o jornal era produzido pelo Partido Republicano de Curitiba e circulou diariamente ao público por quatro anos. À frente do periódico estava o jornalista Nestor de Castro (1867-1906), que é patrono da cadeira 33 da Academia Paranaense de Letras e lembrado até hoje como nome de uma importante travessa da cidade.
A versão do dia 23 de abril de 1898 dessa primeira Gazeta noticiava algumas invasões residenciais, fazia uma crítica gastronômica sobre algumas marcas de erva mate, sugeria um novo sabão que era garantia de “brandura excelente” e indicava “lotes urbanos magníficos”. Mas dedicava boa parte da primeira página a uma crítica ao judiciário, que tinha acabado de conceder um habeas corpus a algumas figuras sabidamente corruptas, como escreve Nestor de Castro, “quebrando a espada da Justiça” e fazendo um dos envolvidos “tartufo [hipócrita e dissimulado inspirado em obra do francês Molière] descer de seu estrelado carrinho de praça, como arlequim de feira, e rua a fora bater palmas ao som da charanga e ao estalar de foguetes, por haver chegado a notícia de que o Supremo Tribunal Federal concedera habeas corpus”. Veja que nem tudo mudou tanto assim em 100 anos.
Colaborou: Eduardo Aguiar.