Não vale mais ficar em cima do muro para as grandes questões do nosso tempo
Clareza nos posicionamentos do jornal frente às grandes questões da vida é jogar limpo com o leitor que, concorde ou não com os valores, sabe por meio de qual lupa os problemas serão analisados
Luan Galani, especial para a Gazeta do Povo.
Muitas empresas do mundo entenderam que não vale mais ficar em cima do muro para as grandes questões do nosso tempo. A Nike toma posições corajosas em suas propagandas. O diário irlandês The Irish Times publicou incontáveis artigos e matérias desconstruindo sem medo o Brexit (acordo de saída do Reino Unido da União Europeia) da primeira-ministra britânica Theresa May. O inglês The Guardian bate no peito que é a maior voz liberal do mundo e o New York Times se posiciona radicalmente contrário a valores apregoados por Donald Trump.
A Gazeta do Povo não fica para trás. Tornou-se o mais importante jornal do Paraná e um dos principais players nacionais praticando um jornalismo editorialmente independente. Em um feito
inédito para a imprensa brasileira e de extrema coragem e honestidade para com os leitores, em 2017 publicou na íntegra todas as convicções que norteiam o jornalismo da casa.
O texto publicado à época lembra: “Não se preocupe se não concordar com elas. É natural que tenhamos pontos de divergência. Não é assim que ocorre, mesmo entre amigos, numa sociedade plural como a nossa? Essa eventual discordância não será motivo para que não conversemos, mas, antes, um estímulo a mais para uma enriquecedora troca mútua, que desejamos.”
Uma comunicação pretensamente asséptica nunca será possível. A produção intelectual sempre vai carregar uma visão de mundo. “Falar o contrário é mascarar suas convicções, e não ser honesto consigo e com os demais”, confidencia o advogado Guilherme Döring Cunha Pereira, que preside o Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom).
Por muito tempo a imprensa brasileira se protegeu por trás dessa pretensa imparcialidade. Qualquer posicionamento era visto como politicamente incorreto. “Hoje a gente chegou em um ponto de equilíbrio, compreendendo que ter um posicionamento não é sinônimo de adesismo a governos. Trazer a sua visão de mundo no DNA das reportagens não é expurgar visões contrárias”, explica o
diretor de redação, Leonardo Mendes Júnior.
Desde sua criação em 1919, a Gazeta do Povo é conhecida por suas bandeiras, que sempre geraram uma série de desdobramentos sociais e econômicos, como o pagamento dos royalties de Itaipu
pela inundação de algumas áreas a partir de 1985, o reconhecimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) como símbolo máximo de Curitiba em 1999, e a revitalização do Passeio Público
nos anos 2000. Hoje as campanhas se debruçam mais sobre grandes questões de pano de fundo do ser humano e do Estado brasileiro, como pontua Mendes Júnior.