Artéria do Paraná é uma série especial que mostra a importância da infraestrutura rodoviária para o desenvolvimento do país.

Na contramão de outros setores, agronegócio paranaense cresce e mostra força

Negócios ligados à agricultura e pecuária devem crescer 2% em 2017; no Paraná, são responsáveis por 30% de toda a riqueza gerada no estado

Roberta Canetti, especial para o GPBC

Agronegócio no Brasil

Responsável por 30% do PIB do Paraná, o agronegócio tem mostrado, em meio à maior crise econômica da história do Brasil, porque é o setor mais competitivo da economia brasileira. Na contramão dos indicadores já interpretados como números de uma recessão, o agronegócio mantém a expansão. Confira:

Participação do agronegócio no PIB brasileiro
Participação do agronegócio no PIB brasileiro
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Infografia: Gazeta do Povo.

Responsável por 30% do PIB (Produto Interno Bruto) do Paraná, o agronegócio tem mostrado, em meio à maior crise econômica da história do Brasil, porque é o setor mais competitivo da economia brasileira. Na contramão dos indicadores já interpretados como números de uma recessão, o agronegócio mantém a expansão. De uma participação no PIB de 21,5%, passou a 23% em 2016. E a previsão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é de crescimento de 2% em 2017.

A explicação está na capacidade de resposta rápida do segmento aos estímulos do mercado internacional e nos investimentos feitos pelo próprio setor em modernização, aproveitando momentos favoráveis para o crescimento da atividade, de acordo com o economista Gilmar Mendes Lourenço, professor do FAE Centro Universitário. “No início da década de 2000, houve o chamado boom de commodities, com o aquecimento da economia da China. Na sequência, no mercado brasileiro, os programas de transferência de renda do governo federal ampliaram o consumo interno e isso teve impacto nas vendas dos alimentos. O setor aproveitou as oportunidades para investir e melhorar as condições de produtividade no campo e na agroindústria”, explica.

Mesmo em meio à crise, a tendência é que o setor mantenha o crescimento com um cenário internacional favorável em 2017.

“Com a recuperação dos preços, há crescimento na demanda por alimentos fora do país. O Paraná está colhendo mais uma supersafra e vai tirar proveito da situação favorável mais uma vez”, prevê.

- Gilmar Mendes Lourenço

Soja, destaque no agronegócio

O dinamismo do agronegócio brasileiro nas décadas recentes e as perspectivas de crescimento colocam o setor em posição estratégica para impulsionar a economia brasileira e aumentar a participação no mercado externo, com as exportações de produtos agropecuários, especialmente soja.

Exportações brasileiras em 2015
Fonte: Ministério da Agricultura. Infografia: Gazeta do Povo.

O dinamismo do agronegócio brasileiro nas décadas recentes e as perspectivas de crescimento colocam o setor em posição estratégica para impulsionar a economia brasileira e aumentar a participação no mercado externo, com as exportações de produtos agropecuários, especialmente soja. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, o complexo de soja, composto pela soja em grãos e derivados como o óleo e o farelo, foi o principal produto exportado em 2015, representando 14,62% de toda a exportação brasileira (US$ 27,96 bilhões).

Nesse contexto, o Paraná, mais do que nunca, exerce papel importante na recuperação da economia nacional. Em 2017, o estado deve voltar a ser campeão de produtividade de soja. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, com a produção de 3,6 toneladas por hectare neste ano, o Paraná supera em 4% a média colhida nos Estados Unidos, maior produtor do planeta. E a estimativa é de que o estado produza 19,4 milhões de toneladas de soja na atual safra, uma alta de 17% sobre o volume registrado na colheita passada. “O Paraná é agronegócio puro. Dos 399 municípios, pelo menos 380 estão diretamente envolvidos com atividades do setor. E as cooperativas representam mais da metade da fatia do agronegócio no PIB do estado”, completa Lourenço. O Paraná está encerrando a colheita da safra de grãos de verão com um desempenho considerado o melhor da história do estado. Serão colhidos 24,5 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 21% sobre o mesmo período do ano passado.

Periodo de colheita de soja na regiao de Toledo. Foto: Gazeta do Povo
Periodo de colheita de soja na regiao de Toledo. Foto: Gazeta do Povo

Mas o destaque do Paraná vai além da produção de grãos. Considerado “celeiro” do país até a década de 1990, o estado atualmente é o segundo maior polo da produção agroindustrial brasileira e o que mais agrega valor à produção rural, a partir da transformação da produção primária do campo. Para o engenheiro agrônomo da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Nilson Hanke Camargo, o fato do Paraná ter uma moderna e sólida agroindústria no atual período de crise torna ainda maior o potencial de recuperação da economia a partir do setor. “A agropecuária é a alavanca para a agroindústria, que gera os empregos. O aumento da produção fomenta o crescimento da capacidade da indústria, que faz girar a economia local e regional. É a exportação dos produtos agroindustrializados que melhora a receita interna”, afirma.

A soja no agronegócio paranaense

Área
Ha
Produção
Toneladas
Produtividade
Kg/Ha

*Dados preliminares sujeitos a retificação **Estimativa
Atualizada em maio/2017

Fonte: SEAB/DERAL. Infografia: Gazeta do Povo.

A barreira da infraestrutura

“A política nacional priorizou o consumo e não o investimento. A crise nada mais é do que o estouro dessa bolha”

- Julio Suzuki
Julio Takeshi Suzuki Junior. Foto: Gazeta do Povo
Julio Takeshi Suzuki Junior. Foto: Gazeta do Povo

Embora as previsões sejam bastante otimistas para o agronegócio, o setor enfrenta uma perigosa barreira para o desenvolvimento sustentável da atividade: a estagnação de investimentos públicos em infraestrutura, especialmente a rodoviária. Ao mesmo tempo em que as políticas públicas que alavancaram o consumo geraram resultados positivos pelo aumento do consumo de alimentos, a falta de investimento em infraestrutura pela União tem um preocupante impacto para toda a cadeia produtiva. Para o diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Takeshi Suzuki Junior, a própria crise é fruto da inversão na política de investimentos federais e a retomada das obras de infraestrutura é ponto central na recuperação do crescimento econômico do país: “A política nacional priorizou o consumo e não o investimento. A crise nada mais é do que o estouro dessa bolha”, avalia.

Gilmar Lourenço lembra que não é apenas a produção do Paraná que depende da infraestrutura de escoamento dentro do estado. “O Paraná exporta produção de outros estados, principalmente do Norte e do Centro-Oeste. E o agronegócio amarga perda de produtividade não no campo ou na indústria, mas da porta da fábrica para fora, por causa da deterioração da infraestrutura”, analisa.

De acordo com dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT), mais de 60% de toda carga transportada no Brasil passa pelas estradas. O histórico de baixos investimentos em ferrovias é uma das razões para essa concentração, como explica Camargo, da Faep. “A área ferroviária é um caos. É tão tumultuado que o agronegócio do Paraná pouco se utiliza das ferrovias, que ficam restritas basicamente ao açúcar do Norte do Paraná. No Paraná, o último grande investimento foi feito na Ferroeste, nos anos 90”, diz. A Ferroeste fechou 2016 com recorde de faturamento e transporte de cargas (alta de 12,5% em relação ao ano anterior). O volume de cargas foi de 827 mil toneladas e o fluxo interno de mercadorias, entre Cascavel e Guarapuava, representou 47% do resultado. Mesmo assim, o transporte da produção de grãos é feito, essencialmente, pelas rodovias.

Socorro em parcerias com a iniciativa privada

Maurício Quintella. Foto: Gazeta do Povo
Maurício Quintella. Foto: Gazeta do Povo

No Paraná, o Anel de Integração, que compõe o atual sistema de rodovias concessionadas, tem 2,5 mil km. Dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) mostram uma retração no movimento de veículos pesados. O índice ABCR, que mede o fluxo de veículos nas estradas concedidas à iniciativa privada, acumula uma queda de 5,2% nos últimos 12 meses no Brasil (dados de março). Entre fevereiro e março, a queda foi de 1% no país. Mas, no Paraná, o início do escoamento da safra já provoca elevação no índice no estado. Em março, o movimento já oscilou positivamente em 0,6% na comparação com o mês anterior. A tendência é de mais crescimento nos próximos meses e a preocupação é com as condições das rodovias para o transporte da supersafra.

Sem capacidade financeira para retomar obras de infraestrutura rodoviária, o governo federal tenta se socorrer nas parcerias com a iniciativa privada. De acordo com o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, uma das principais ações do governo é o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), criado pelo governo federal para reforçar a coordenação das políticas de investimentos em infraestrutura por meio de parcerias com o setor privado.

“O objetivo é ter um novo fluxo de decisões para a priorização e o acompanhamento dos projetos que serão executados por meio de concessões, parcerias público-privadas e privatizações, além de garantir um ambiente propício à expansão da infraestrutura, do desenvolvimento econômico e das oportunidades de investimento e emprego no País”, afirma.

- Maurício Quintella

O governo do Paraná anunciou, em março, um pacote de licitações para obras na malha rodoviária estadual do Paraná. De acordo com o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), o investimento é de R$ 2,3 bilhões para intervenções nas rodovias paranaenses nos próximos três anos.

Em um cenário de crise, o poder público aposta nos investimentos privados para que o setor do agronegócio possa socorrer o país com a urgência da recuperação econômica e retomada do crescimento. “A solução para dotar o país de um sistema de transporte eficiente recai substancialmente sobre os investimentos privados e públicos em infraestrutura de transportes, ou seja, em ações do governo associadas com a iniciativa privada para melhorar o escoamento, com o objetivo de reduzir custos e proporcionar maior competitividade dos produtos brasileiros”, conclui Quintella.

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