A erva-mate no século 21
Reportagem: Pollianna Milan e Leandro dos Santos.
Pesquisa: Leandro dos Santos.
Jorge Mazuchowski, engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) especialista no cultivo de erva-mate, aponta que o produto tem um mercado internacional promissor, porém pouco explorado. Atualmente o mercado mundial dos chás é dominado pela Camellia sinensis, o chá inglês, que em sua maioria é produzido na Ásia, continente que também é o maior consumidor da bebida. O Brasil teria um mercado consumidor gigantesco lá fora, contudo, a sazonalidade da erva-mate e a sua produção em pequena escala impedem que o produto consiga competir com o chá inglês no abastecimento contínuo do mercado externo. A atual preferência mundial por produtos naturais oferece à erva-mate a chance de cair no paladar de novos mercados consumidores; especialmente por a planta ser estimulante, o que a torna uma alternativa aos energéticos industrializados e às bebidas à base de cola. O Brasil hoje exporta apenas 10% do pouco que é produzido, confira alguns números sobre a produção da planta:
Produção recente
Segundo dados de 2008, apesar de o Paraná ser o maior produtor de erva-mate ele fica em terceiro lugar no consumo da planta.
A erva-mate no Paraná
Assim como no começo do século passado, a produção de erva-mate continua concentrada na região Centro-Sul do estado.
Instituto do Mate
Com a finalidade de defender os interesses do mercado ervateiro e propagar o uso do produto no Brasil e no exterior, o Instituto Brasileiro do Mate também se preocupou em melhorar a produção da erva-mate nos seus processos de produção.
O órgão foi criado por um decreto-lei em 1938 a partir da junção de duas instituições semelhantes já existentes (uma no Paraná e outra em Santa Catarina). Também serviu para suprir a falta do Sindicato Interestadual após a sua extinção em 1937.
O instituto era mantido com a cobrança de uma pequena sobre o mate exportado. No livro “História Econômica do Mate”, Temístocles Linhares explica que o instituto foi responsável por salvar a indústria ervateira de sua extinção. “Ele permitiu aos exportadores respirar, graça ao regime de disciplina imposto à modalidade das cotas individuais, baseadas na tradição, e à centralização das vendas através de organizações auxiliares”. O instituto também divulgou novos métodos de poda da planta, aumentando o período entre os cortes para que a árvore não secasse. Combateu, ainda, a superprodução (para não ter de queimar erva-mate como foi feito com os estoques de café) e ajudou no adensamento de ervais pelo interior do Paraná.
Apesar dos grandes avanços que trouxe à indústria do mate, o instituto sempre sofreu duras críticas e, na época, muito se questionava se ele deveria continuar existindo. O maior problema ocorreu quando a junta deliberativa do instituto se voltou para políticas nacionais e esqueceu o aspecto regional (principalmente ligado ao Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso). A falta de contato com a realidade dos ervais, por estar sediado em Brasília, acabou levando o instituto à falência. Acabou sendo extinto em 1967.
O legado da erva-mate
A importância que o ciclo da erva-mate teve no desenvolvimento econômico do Paraná é inegável. Ao termos uma economia estável pudemos pleitear nossa emancipação política da província de São Paulo. O ciclo também propiciou o desenvolvimento de uma infraestrutura de transporte com hidrovias, estradas e ferrovias. A Universidade Federal do Paraná não foi fundada por ervateiros, mas, o historiador Ruy Wachowicz afirma que foi graças ao dinheiro que a erva-mate trouxe ao estado que a instituição pode ser criada. É vasto o legado deixado pela planta que é consumida pelos indígenas há muitos séculos. Agora é preciso reavaliar as potencialidades do produto para que seja possível torná-lo, mais uma vez, uma alavanca para o desenvolvimento do Paraná.