A burguesia que floresceu da erva-mate
Reportagem: Pollianna Milan e Leandro dos Santos.
Pesquisa: Leandro dos Santos.
As residências da elite da erva-mate foram feitas numa época em que nem sequer calçamento existia: ficavam em amplas áreas verdes, como se fossem chácaras. O pesquisador Samuel Guimarães da Costa, em um estudo sobre o Paraná do início do século 20, afirma que na origem da fortuna das principais famílias de Curitiba encontra-se a erva-mate. “Ela fez viscondes e barões, criando a pequena aristocracia paranaense, a exemplo do que ocorreu com o café em São Paulo, com a cana-de-açúcar no Nordeste e com o cacau na Bahia.”
Os primeiros bairros de Curitiba nasceram exatamente onde foram morar os donos das ervateiras do Paraná, os burgueses da época. O Alto da Glória, principalmente no Boulevard 2 de Julho (atual Avenida João Gualberto), é o endereço que abriga até os dias de hoje o clã de Agostinho Ermelino de Leão Junior. O Palacete dos Leões é atualmente local de exposições, vizinho da Capela da Glória e da Vila Odete, que ainda é residência de membros da família. O Palacete dos Leão chegou a hospedar o presidente Affonso Pena, em 1906, em decorrência de Curitiba não dispor de hotéis à altura. Na mesma rua também viveu o fundador da Mate Real, Francisco Fasce Fontana, na residência que ficou conhecida como Mansão das Rosas. Dela só restou um portal, em frente ao Colégio Estadual do Paraná. O Alto da Glória era o local preferido para moradia dos ervateiros por estar justamente na saída para a Estrada da Graciosa, trajeto usado para levar a erva-mate, em lombos de burro e posteriormente em carroções, até Paranaguá. Isso antes da construção da estrada de ferro.
Outro bairro que nasceu da tradição ervateira foi o Batel, primeiro ponto de parada na capital das mulas carregadas que vinham do interior do estado. A principal rua escolhida para a construção das residências foi a antiga Estrada do Mato Grosso (hoje rua Comendador Araújo): ali também foram erguidos casarões ao lado dos engenhos, em que o mate era beneficiado. Manuel e Ascânio Miró tinham residência nessa via e, na região, também se alojaram Manuel de Macedo, Guilherme Xavier Miranda, David Carneiro e Joaquim José de Lacerda. O único que construiu um grande palacete longe do engenho foi o Barão do Serro Azul – Ildefonso Pereira Correia. Hoje a casa abriga o Museu da Gravura, na rua Carlos Cavalcanti. O engenho do barão ficava no Batel. “O imóvel do shopping Omar era a casa de Manuel Miró que, depois, virou sede da Universidade Federal e, apenas mais tarde, tornou-se centro comercial. Esta casa é uma das poucas da época em estilo colonial, diferente das outras, que são palacianas. Felizmente e graças à riqueza da erva-mate, Curitiba transitou da arquitetura pesada e urbana para a arquitetura palaciana, mais aberta”, explica o arquiteto Key Imaguire que, em 1987, fez um levantamento das residências de ervateiros com o apoio do grupo de Arquitetura Brasileira da UFPR. Os jardins das casas costumavam ser de dois tipos: francês (com flores e arbustos plantados criando formas geométricas) ou inglês (que formam paisagens com gramados, lagos e árvores). O interior das construções utilizava materiais de acabamento da melhor qualidade, em sua maioria vindos da Europa. Os móveis e a decoração também tinham inspiração no estilo do Velho Mundo.
Os palacetes do mate
A maioria dos palacetes dos “barões da erva-mate” se concentrava no bairro Batel (onde terminava o caminho da erva que vinha do interior) e no bairro Alto da Glória (onde se iniciava um dos caminhos para os portos do litoral).
Palácio dos leões
Vila Odete
Vila Odete
Bernardo da Veiga 1
Bernardo da Veiga 2
Mansão das Rosas
Solar do Barão
Zacarias de Paula Xavier
Ascânio Miró Filho
Manuel de Macedo
Palacete Ascânio
Manuel Miró