20 anos da primeira Libertadores do Athletico

Especial

O ano em que o Athletico descobriu a América Há 20 anos, em 16 de fevereiro, o Athletico jogava a sua primeira Libertadores. Um novato Furacão começou a escrever uma história que, duas décadas depois, ganha o sétimo capítulo, com a participação em 2020 (veja a tabela). No período, foi vice, em 2005, fracassou em 2002, e, com o tempo, forjou a identidade de El Paranaense, uma versão latina do clube



Reportagem: Murilo Basso.

Edição: André Pugliesi.

Publicado em: 12/02/2020.



Todos os detalhes da primeira incursão do Athletico pela América, no ano 2000: entrevistas, bastidores, números, passagens inéditas, fotos e cobertura da Gazeta. Libertadores, estamos chegando!

17 horas, 21 de dezembro de 1999

Às duas horas da manhã do dia 12 de outubro de 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo, na tentativa de encontrar uma rota alternativa para as Índias, foi parar nas Bahamas e deu início ao que se convencionaria como o descobrimento da América. Quase que por acidente, ele daria início à colonização de um continente que, abaixo da linha do Equador, viria a ter os mais apaixonados torcedores de futebol do mundo. Ao desembarcar no novo desconhecido, porém, Colombo não sabia onde estava.

Às cinco horas da tarde do dia 21 de dezembro de 1999, a América abria as portas a um novo explorador: o Clube Atlético Paranaense, até então restrito às fronteiras nacionais e ainda longe de ser El Parananense, carimbava seu passaporte para participar da Copa Libertadores da América, torneio lendário e que, à época, era ainda visto como exótico e cujos adversários pouco se sabia a respeito.

Tão especial quanto a consagração do Furacão, foi a forma como o clube conseguiu a façanha, inédita até os dias de hoje. Um torneio realizado apenas naquela ocasião, chamado de “Seletiva para a Libertadores”, colocou o então Atlético em pé de igualdade para lutar por uma vaga no maior torneio da América do Sul. 

Naquele ano, a CONMEBOL aumentou o número de participantes do torneio de 24 para 32 equipes, fazendo com que o Brasil passasse a ter direito a quatro vagas. Porém, excepcionalmente naquela edição, o país teria um participante a mais. Daí o surgimento do campeonato, que reuniu no fim da temporada os clubes que ainda não tinham vaga na Libertadores e nem haviam sido rebaixados.

“Foi um salto de qualidade”, afirma o colunista da Gazeta do Povo Carneiro Neto. “Ficou marcada indelevelmente a participação do clube. Depois, foi se desenvolvendo no torneio, até chegar ao vice-campeonato em 2005, sua melhor campanha”, completa.

Voltar para o índice

Capítulo 1:

“Quem é Athletico Paranaense?” 

O Athletico entrou no Grupo 1 da Libertadores 2000, contra um campeoníssimo e outras equipes que, embora não tivessem títulos continentais, estavam bem mais acostumadas às disputas. A chave era compartilhada com o Emelec, do Equador, que fazia sua 14ª participação, o Alianza Lima, do Peru, que chegava a 15 presenças, e o gigante Nacional de Montevidéu: tricampeão da América e do Mundo, e chegando à 27ª participação na Libertadores. O Athletico era novato e, embora tivesse fama do futebol brasileiro atrás de si, era visto como um azarão. “Muitos falavam que não iríamos passar nem da primeira fase. Mas, depois que começou, sentimos que poderíamos chegar longe”, recorda Reginaldo Cachorrão.

Viagem para Lima

Delegação rubro-negra vai de Varig para o Peru. Crédito: Irandy Ferreira/Arquivo/Gazeta do Povo

A mudança de regulamento também tornava as coisas mais difíceis na fase de grupos: a Libertadores havia crescido e passado a distribuir mais vagas, é verdade, mas o caminho para as oitavas-de-final se tornou mais complicado – até o ano anterior, os três primeiros de cada grupo seguiam em frente, o que significava que apenas o último colocado via suas expectativas encerradas; agora, porém, apenas dois avançavam. A margem de erro era muito menor. Mas, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, os estreantes praticamente não errariam durante o quadrangular. Era a vez de o Furacão se tornar Huracán das Américas e assombrar quem viesse pela frente. Desde a estreia.

A novidade para o clube também era para boa parte dos jogadores. “Tínhamos a consciência de que teríamos uma equipe muito jovem, desconhecida até. E, até então, o Athletico não era conhecido internacionalmente”, recorda Vadão. Ao chegar para reconhecer o Estádio Alejandro Villanueva, vulgo Matute, para a estreia fora de casa com o Alianza Lima, Vadão teve que lidar com a zombaria de um torcedor peruano. “Quem é Athletico Paranaense?”, provocava. “No Brasil, só Pelé”, complementava. A resposta viria em campo. “Nós surpreendemos com um futebol altamente veloz, que aqui no Brasil não era novidade para ninguém”, explica o treinador.

Mas, entre o desprezo ingênuo dos peruanos e a goleada que marcou a estreia continental do Furacão, houve muita apreensão. “A grande maioria dos atletas ali nunca havia disputado um campeonato internacional”, relembra o meia Kelly. “Na verdade, não tínhamos noção da dimensão. Chegaram alguns jogadores estrategicamente mais experientes, caso do Silas e do Luís Carlos Goiano, que já haviam disputado Libertadores. A partir de então que começamos a ter, graças a eles, capacidade para compreender o que realmente tudo aquilo significava, tanto para o clube quanto individualmente para cada atleta”.

A pouca experiência gerava situações curiosas. Os jogadores recebiam 250 dólares de diária para gastar durante as viagens e, sem se dar conta dos valores fora do país, acabavam deixando pequenas fortunas por esquecer de pegar o troco. Outros usavam o dinheiro deliberadamente para se divertir com aquilo que não encontravam no Brasil. No Uruguai, para enfrentar o Nacional, a delegação ficou em um hotel com cassino. “Tirei 50 dólares da minha diária, comprei um balde de moedas e fiquei quatro horas na frente dos caça-níqueis. Nunca me diverti tanto”, conta Luisinho Netto. Tudo era novidade: “Estava perdendo rios de dinheiro por bobeira e achando tudo aquilo fantástico”, completa.

Mas mesmo com a diversão, a preparação foi séria do início ao fim, para colocar o pé na porta da América e se tornar um habitué das noites continentais. O Athletico teve cerca de dois meses entre a vitória da Seletiva em 1999 e a estreia na Libertadores em 2000, período que incluía as férias do elenco no meio. Mal voltou à ativa, a equipe se fechou em uma espécie de bunker para chegar com força total à Libertadores. “Foram 30 dias de preparação no CT do Caju, com o grupo todo sem tirar o pé lá de dentro. Eram as famílias que iam nos visitar”, descreve Luisinho Netto sobre o isolamento que daria resultado. “Nos preparamos muito bem, não só para o primeiro jogo, mas também para a continuidade do torneio”, entende.

Muitos dos jogadores encararam o jogo contra o Alianza como se estivessem diante de uma final de campeonato, conta Reginaldo. “Era uma competição nova para nós, e que todo mundo queria participar. Estávamos muito apreensivos, mas confiantes e ao mesmo tempo, loucos para começar logo, para tirar aquele peso, aquela ansiedade pré-jogo”, diz o atacante.

E demorou apenas seis minutos para o Athletico iniciar sua contagem de gols no continente: na noite de 16 de fevereiro de 2000, em Lima, o árbitro colombiano John Toro Rendón apontava para o centro do gramado validando o gol de Luisinho Netto – praticamente um gol olímpico, um pouco à frente da bandeirinha de escanteio, cruzando direto para o arco do goleiro uruguaio Leo Percovich. Lucas, aos 43, e Kelly, já aos 37 do 2º tempo, completaram o 3x0. Ainda houve um gol anulado de Adriano Gabiru, que aumentaria ainda mais o massacre.

Alianza Lima x Atlético

Kelly é um dos destaque do duelo no Peru. Rubro-Negro atropelou: Reuters.

“A ficha (de marcar o primeiro gol do Athletico em Libertadores) só foi cair no retorno ao Brasil. Não só o gol, mas o fato de termos feito um jogo como aquele contra uma equipe que já vinha disputando a Libertadores há anos, que já tinha uma história dentro da competição”, comemora Luisinho Netto. “Foi uma sensação de dever cumprido na estreia. Aquilo que nos propomos a fazer lá no Peru. Foi, na verdade, melhor que a encomenda”.

Voltar para o índice

Capítulo 2:

Tomando o continente de assalto 

O massacre no Alejandro Villanueva deu a tônica de como seria a campanha do Athletico na fase de grupos daquela Libertadores. Se nem sempre as goleadas vieram, as vitórias foram uma constante: o Furacão faria 16 dos 18 pontos disputados, só empatando uma vez, contra o Emelec, no Equador. Só não fez a melhor campanha geral da primeira fase por um gol de saldo: os colombianos do América de Cali, no Grupo 6, igualaram a pontuação dos paranaenses, mas tiveram saldo 10 contra 9 do rubro-negro. 

Kléber enfrenta o Emelec na Baixada. Crédito: Antônio Costa/Arquivo/Gazeta do Povo

O Athletico, porém, teve a melhor defesa: só foi vazado duas vezes em seis jogos. Nenhum outro classificado às oitavas-de-final levou menos que quatro gols. O Corinthians, campeão brasileiro, fez três pontos a menos e levou sete gols a mais. O Palmeiras, que defendia o título continental, somou seis pontos a menos e levou oito gols a mais. 

Em casa, após o jogo de Lima, a estreia na Libertadores diante da torcida foi em um 1x0 contra o Emelec. Kléber Pereira marcou um belo gol de falta aos 23 minutos do 2º tempo e fez a festa de uma Arena da Baixada que apenas começava a conhecer a glória das noites copeiras. A grande mostra de força da campanha, porém, viria na rodada seguinte, contra o adversário mais tradicional do grupo: em Montevidéu, no lendário Estádio Centenario, o Nacional vivenciou um atropelo. Em 18 minutos, o Athletico já vencia por 2x0, dois gols de Kelly. Quando o tricolor uruguaio tentou reagir, com um míssil de Scotti aos 13 do 2º tempo, o Furacão matou suas aspirações de imediato: quatro minutos mais tarde, Lucas também fez um lindo gol, emendando de primeira de fora da área, para fechar os 3x1. 

Osvaldo Alvarez, o Vadão, desembarca com o Athletico em Montevidéu. Crédito: Fabrício Correa/Arquivo/Gazeta do Povo

“A campanha estava surpreendendo a todos. Mas nós não estávamos surpreendidos porque sabíamos que nosso time, embora não tivesse jogadores conhecidos, tinha qualidade”, diz Kelly, sobre o choque os (até ali) 100% de aproveitamento começava a causar. “A imprensa estava surpresa. Principalmente pela campanha que havíamos feito no Campeonato Brasileiro, de não classificar entre os oito, e de estar atropelando na Libertadores”, conta o herói do jogo no Centenario. “De alguma forma, surpreendemos até nosso próprio torcedor”, reforça, ao lembrar que poucos esperavam resultados tão bons em uma participação de estreia. 

Lucas, que marcou um golaço na partida, joga contra o Nacional, no Uruguai. Crédito: Reuters.

Com o tempo, porém, até a imprensa desconfiada e o raro torcedor pessimista foram sendo conquistados. “Desde a época em que cheguei, eu via aquela torcida apaixonada, que sempre incentivou e acreditou. A torcida do Athletico é espetacular e a tenho guardada no coração até hoje. E a imprensa também nos apoiou bastante, principalmente depois que o time começou a deslanchar, ganhar corpo e ter a sequência de vitórias”, relembra Reginaldo. 

“A cada jogo que fazíamos, colocávamos na cabeça que era uma oportunidade a mais para ampliar a história que estávamos construindo”, completa. E a história, claro, seguiu sendo feita quando o turno do quadrangular virou: o Athletico voltou à Arena da Baixada para enfrentar o Alianza Lima, em jogo que marcou a 100ª partida dos peruanos na história da Libertadores. O Furacão, que estava apenas na sua quarta aparição no torneio continental, novamente triunfou: 2 a 1. 

Lucas cerca jogador do Alianza Lima na Baixada. Crédito: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo.

A goleada do jogo no Peru acabou não se repetindo, muito por conta das várias chances perdidas ao longo da partida. Ainda assim, o jogo começou prometendo placar elástico: Luisinho Netto abriu o marcador batendo falta do meio da rua já aos 2 minutos. John Hinostroza empatou com meia hora de jogo, e dali em diante o Athletico tentou apertar cada vez mais em busca da vitória que garantia a classificação antecipada. Já na reta final do jogo, aos 30 do 2º tempo, Kléber Pereira fez ótima jogada e passou para Lucas firmar a quarta vitória em quatro jogos. 

Com a vaga no bolso, vieram os únicos pontos perdidos na primeira fase: em Guayaquil, 0x0 contra o Emelec. Um resultado que não incomodou ninguém, até porque o Furacão tinha tudo nas mãos para garantir o primeiro lugar da chave: na rodada final, em casa diante do Nacional, poderia perder por até dois de diferença que ainda avançaria como líder da chave. Mas o Athletico fez exatamente o contrário: venceu por 2x0, gols de Luís Carlos Goiano e, como já havia se tornado habitual, Luisinho Netto. 

Em sua primeira participação, na maior Libertadores da história até ali, o Athletico passava com sobras, invicto, e agora sonhava com os mata-matas. Uma campanha que parecia consolidar uma mudança de patamar. “Aquela primeira fase foi importantíssima porque nos proporcionou uma arrancada fulminante, mostrando que o Athletico tinha condições (de fazer frente na Libertadores)”, resume Vadão. 

Voltar para o índice

Capítulo 3:

O último ato 

A resiliência contra times estrangeiros era um ponto forte dos paranaenses, mas um adversário conhecido estava no caminho. O Atlético Mineiro voltava à Libertadores após 19 anos, com um elenco de nomes conhecidos como o goleiro Velloso, o atacante Guilherme e um jovem Gilberto Silva, distante apenas alguns anos de ser o volante pentacampeão do mundo que viria a brilhar no britânico Arsenal.

Adriano Gabiru briga com a marcação no confronto decisivo no Mineirão. Crédito: Hoje em Dia.

Após um revés de por 1 a 0 no jogo de ida, em Minas Gerais, o Furacão precisava se impor na Arena da Baixada e começar o jogo voando. Com apoio de cerca de 34 mil pessoas, o time entrou em campo no dia 11 de maio de 2000 determinado a garantir a classificação.

"No Mineirão acertei uma bola na trave do Velloso. Sorte ou azar, escolha seu lado.  Quando perdemos aquele jogo no Mineirão, vimos que era possível", recorda o atacante Silas.

Já na Arena, Kelly, sempre ele, vestia o vermelho e preto que buscava perfurar as linhas de defesa do galo. Aos 25 do primeiro tempo, o camisa 10 rubro negro abriu o placar, 1 a 0. Naquele momento, tudo caminhava para os pênaltis.

Foi então que Luisinho Netto, o homem da bola parada, apareceu - como, aliás, já fizera inúmeras outras vezes naquela campanha. Falta precisa, indefensável para Velloso. 2 a 0 e ali, aos 37 da primeira etapa, o Atlético ia garantindo sua vaga nas quartas de final.

Mas o Mineiro também queria. No segundo tempo, o time insistiu e foi premiado quando, após cruzamento, Marques descontou para o Galo. Aos 35 do segundo tempo, o El Paranaense pouco pôde fazer para ensaiar uma reação.

Nas cobranças de pênalti derradeiras, Lincoln deu início à sequência. Flávio saltou e por um acaso do destino não pegou a batida. Silas, confiante, bateu para o Paranaense e fez. Ramon acertou também, seguido de um Kelly cujos batimentos cardíacos devem ter acelerado ao ver Velloso encostar na bola, mas deixá-la balançar as redes.

Talvez a cobrança que ainda ecoe na cabeça do goleiro Flávio seja justamente a do meia Irênio. Por falta de sorte, destino ou o que quer que se convencione chamar, a bola passou por entre os braços do arqueiro. Ali, o sonho da América começava escapar.

Coube a Adriano bater na sequência, por cima do gol. Frustrado, ele observou à distância a celebração de Guilherme, que fuzilou Flávio e colocou o Mineiro nas quartas de final. Era adiado o sonho do Furacão. 

"Logo que acabou o jogo, pedi minha chuteira esquerda de trava, porque era meu pé de apoio. E justamente o Gabiru que estava com chuteira de borracha foi quem escorregou na hora da batida e perdeu o pênalti. Na época ainda era um gramado natural, então tinha bastante barro ao lado do banco. De novo: sorte ou azar, escolha seu lado", reflete Silas.


A despedida dramática do Furacão contra o Galo. Crédito: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo.


Mesmo assim, os anos que se seguiram mostraram o quanto o novo século prometia - e promete - para o Athletico. "Aqueles jogos mostraram que o clube estava em ascensão e que fatalmente chegaria a um novo patamar. Como de fato, hoje, chegou”, crava Vadão.

Diferente de Colombo cinco séculos antes ao desembarcar no desconhecido, o Athletico sabia exatamente onde estava. E ainda mais importante: também diferente de Colombo, sabia exatamente para onde ir dali em diante.

Voltar para o índice

Capítulo 4:

Uma classificação sem igual 

A Seletiva reuniu todos os times que ficaram entre o 3º e o 18º lugares do Brasileirão daquele ano, mas em um modelo escalonado: os dois últimos, Sport e Portuguesa, precisaram jogar uma preliminar. Já as equipes que avançaram muito na Série A só entravam bem mais tarde: casos de Vitória e São Paulo, eliminados na semifinal do campeonato e que entrariam diretamente na semifinal da Seletiva, sem passar pelos mata-matas anteriores.

O Atletiba é considerado como marco na campanha da Seletiva. Crédito: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo.

“Não fizemos um Campeonato Brasileiro como gostaríamos de termos feito, e então focamos na Seletiva. A cada jogo que fazíamos a equipe e o grupo ficavam mais fortes”, recorda Luisinho Netto. O Athletico havia sido o “melhor dos eliminados” no Brasileirão, mas o 9º lugar na primeira fase do campeonato significava pouco quando chegou a hora de buscar a vaga na Libertadores: embora ter uma campanha melhor que a maioria lhe desse a vantagem de jogar por “resultados iguais” nos primeiros mata-matas, isso já não seria verdade quando começassem a entrar na Seletiva os times eliminados nas finais do Brasileirão. 

E o início não foi dos mais promissores, com o rubro-negro já precisando usar esse artifício do regulamento para seguir em frente: a primeira eliminatória foi contra a Portuguesa, a classificada da preliminar entre os piores não-rebaixados do Brasileirão. O jogo de ida acabou em um 3x1 assustador para a Lusa, e foi preciso se desdobrar para aplicar 2x0 em casa, garantir o empate no agregado e, com isso, seguir. 

O susto contra a Portuguesa não deu bons sinais para o futuro, e já colocava outra pedreira no caminho: um clássico contra o Coritiba. Clássicos, porém, podem ser o fim da linha, mas podem arrumar a casa – e o jogo contra o Coxa é considerado por muitos o momento em que a chave virou para o Furacão acreditar que era possível conquistar a vaga inédita. “Nós tivemos uma vitória muito interessante contra o Coritiba. Quando passamos por esse desafio, criamos um ânimo e uma força muito grande”, conta Vadão. 

A vitória “interessante” lembrada por Vadão foi uma goleada histórica e com uma particularidade – foi como se a torcida pudesse sentir exatamente o momento em que as coisas começaram a mudar de figura. No Couto Pereira, o Coritiba saiu ganhando e anulou completamente o Athletico no primeiro tempo de jogo. Ficou claro que algo precisava mudar, e foi justamente o que aconteceu: o Furacão fez jus ao seu apelido na reta decisiva da partida, empilhando quatro gols nos 25 minutos finais e vencendo por 4x1. 

Dali em diante, não houve mais quem segurasse a equipe rubro-negra, para quem a hora parecia ter finalmente chegado. “O time já vinha montadinho desde 1998, sendo campeão estadual. Tínhamos um bom conjunto”, lembra Reginaldo Cachorrão. “No decorrer dos jogos, com o passar do tempo, vimos que tínhamos condições de chegar”. 

O Coritiba até fez 2x1 na volta, mas o Athletico já estava em condições de jogar com o regulamento embaixo do braço. Na fase seguinte, foi a vez de o Internacional ficar pelo caminho, após empate por 1x1 no Beira-Rio e vitória atleticana por 2x1 em Curitiba. Essa vitória abriu caminho para o Furacão chegar à fase mais desafiadora: o momento de enfrentar as equipes eliminadas na semifinal do Brasileirão. O adversário da vez foi o São Paulo, que havia ficado em 5º lugar na fase regular da Série A e só caiu nos mata-matas para aquele que viria a ser o campeão, o Corinthians. 

“O São Paulo tinha um time espetacular”, recorda Vadão. Jogadores como Rogério Ceni, Jorginho, Edmílson, Raí, Marcelinho Paraíba e França vestiram a camisa do tricolor paulista naquela temporada. Ainda assim, o Athletico mostrou sua força: na ida venceu por 4x2 e, uma vez mais, pôs o regulamento embaixo do braço para administrar uma derrota por 2x1 no duelo de volta. “Mesmo a vitória contra o Coritiba sendo o ponto de virada, foi contra o São Paulo que, de fato, entendemos que nosso time tinha condições de ir para a Libertadores. A força que adquirimos contra o Coritiba se consolidou contra o São Paulo”, relata o técnico. 

Vadão conversa com os jogadores no CT do Caju: grupo forte fez história. Crédito: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo.

A final foi contra o Cruzeiro, nada menos que vice-líder do Brasileirão na primeira fase, que acabou condenado à Seletiva após uma eliminação precoce nas quartas-de-final para o maior rival, o Atlético Mineiro. Para muitos, a Raposa era o time para decidir o título nacional daquele ano contra o Corinthians, mas na dureza do clássico regional coube ao alvinegro mineiro esse destino – e o Galo acabaria, no ano seguinte, sendo figura importante nas jornadas épicas do Athletico pela Libertadores. Mas em vez de pleitear o Brasileirão, os azuis de Belo Horizonte precisaram buscar a vaga pelo torneio paralelo. E ali encontraram um novo fantasma capaz de pará-los. 

Os mineiros vinham ostentando um ataque avassalador, com média superior a dois gols por jogo: haviam balançado as redes 50 vezes em 23 partidas no Brasileirão e, uma vez na Seletiva, passaram por Vasco da Gama e Vitória, marcando dez vezes em quatro encontros. Contra o Athletico, porém, a ofensiva liderada por Marcelo Ramos e Alex Alves, adornados por nomes como Valdo, Geovanni e Müller, não conseguiu funcionar. O time que marcava mais de duas vezes por jogo passou em branco na ida. E, quando balançou as redes na volta, foi em mais uma daquelas derrotas que o Furacão havia se acostumado a fazer: jogando com o regulamento ao seu lado. 

O volante Axel e o lateral Luisinho Netto eram dois dos jogadores mais experientes. Crédito: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo.

“Nos fechamos naquela semana. Concentração total. Poderíamos jogar que dez vezes aquela final, que não perderíamos a vaga”, recorda Luisinho Netto. E Vadão corrobora: tão logo voltaram da viagem em que haviam eliminado o São Paulo, o treinador pediu ao capitão Axel que ajudasse a convencer o time a partir para uma concentração imediata. “Eles entenderam bem e vencemos por 3x0, ficando em uma situação privilegiada”, afirma o treinador. O Cruzeiro não viu a cor da bola. A volta, pelo aperto no calendário, foi disputada em uma improvável tarde de terça-feira: às 15h30 de 21 de dezembro, no Mineirão, começou o último jogo antes de o Athletico rumar para a América. O Cruzeiro ficou com a vitória, um 2x1 que não adiantava nada após o massacre da ida. E o Furacão, grande campeão da Seletiva, precisou começar a confeccionar novos passaportes. 

Voltar para o índice

Capítulo 5:

A América cresceu 

A Libertadores de 2000 seria, até então, a maior da história. Após quase trinta anos usando a fórmula que se tornou clássica, com 21 times (dois de cada país nos grupos, mais o atual campeão entrando direto nas fases finais), a Conmebol decidiu que era hora de fazer o torneio crescer. No fim dos anos 90, já havia dado o primeiro passo: começou a convidar também equipes mexicanas, que disputavam uma espécie de Pré-Libertadores contra os venezuelanos.

Boca Juniors, o grande campeão da Libertadores 2000. Crédito: Reuters.

A fórmula, porém, não mudava: passada essa “Pré” ancestral, ainda eram 21 equipes na fase quente da disputa. A partir de 2000, porém, a maior competição de clubes do continente começou a ganhar os contornos que tem hoje: oito grupos de quatro equipes, totalizando 32 participantes. 

Como o número de países continuava pequeno (dez filiados à Conmebol e os novatos mexicanos), a solução não poderia ser outra: multiplicar o número de vagas para quem já disputava a competição. Os principais países, como era de se esperar, ganharam mais lugares. Assim, o Brasil, que nunca tivera mais que duas vagas fixas e um eventual terceiro time se fosse também o país do atual campeão da Libertadores, passou a ter quatro, que acabaram sendo cinco após o Palmeiras ganhar a edição 1999 do torneio. 

Para 2000, então, os participantes brasileiros seriam o próprio alviverde paulista, os campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil (que já tinham vaga antes da mudança de fórmula) e o vice-campeão brasileiro (que passou décadas tendo vaga assegurada até perdê-la, a partir de 1989, com a criação da Copa do Brasil). 

Até aí, nada muito novo. Mas faltava definir uma vaga. Eram tempos em que a Série A ainda era disputada com mata-matas, e o conceito de um G4, G5 ou G6 era uma verdadeira novidade para os torcedores: o que interessava era ficar entre os quatro ou oito melhores que iam para as fases finais da disputa nacional, pois a única coisa que importava era ser campeão. Assim, para não fugir demais ao que os torcedores já conheciam, a CBF inovou: criou um mata-mata paralelo que dava ao seu campeão a vaga continental que estava sobrando. Nascia assim a Seletiva para a Libertadores, jogada no fim de 1999 pelos times que iam sendo eliminados do Brasileirão. 

Foi a única vez que algo nestes moldes foi feito no Brasil: a partir de 2000, uma nova competição, a Copa dos Campeões, disputada pelos vencedores dos torneios regionais (a maioria deles extintos, como a Copa Sul, depois convertida em Sul-Minas), passou a dar vaga na Libertadores. E, de 2003 em diante, com o início dos pontos corridos, o Brasileirão começou a centralizar os lugares extras nas competições continentais. A Seletiva, efêmera e difícil de entender para quem não a viveu, foi a porta de entrada para o Athletico, ainda Atlético, começar a ser conhecido fora do país. 

Voltar para o índice

Infográfico:

A caminhada

Os números da campanha do Athletico na Libertadores de 2000

20 anos da primeira Libertadores do Athletico

Voltar para o índice

Linha do Tempo:

Os jogos, as datas, a emoção do Furacão

16/2 – Lima, Peru

Goleada na alfândega

A chegada a Lima não foi fácil: o Athletico teve problemas no voo e desembarcou no Aeroporto Internacional Jorge Chávez com mais de uma hora de atraso. A imigração também foi problema – muito pela inexperiência dos jogadores em terras internacionais: atletas como o goleiro Flávio, o meia Adriano Gabiru e o atacante Kléber Pereira tiveram dificuldades no preenchimento dos trâmites burocráticos, mas foram socorridos por colegas com maior experiência internacional, como o lateral Jorginho, com passagem pela Udinese da Itália, e o volante Luís Carlos Goiano, que já havia se aventurado pela América nos tempos em que defendia o Grêmio.

Primeira barreira superada, o técnico Vadão brincou com a situação: “Não pensem que estou fazendo meu batismo internacional, já trabalhei três meses na Colômbia”, disse na época. Já o então presidente do clube, Ademir Adur, pregava pés no chão: “Temos que ser humildes e dar um passo de cada vez. Nossa primeira meta é conseguir passar pela primeira fase”.

No hotel, um dia antes do jogo, a concentração era total. Mas enquanto alguns jogadores distribuíam autógrafos e atendiam a imprensa, um peruano tentou profetizar: “O Alianza vai ganhar por 5 a 0”. O goleiro Nicola respondeu sem hesitar: “Não, quem vai ganhar é o Athletico”. No duelo entre morador local e arqueiro reserva, Nicola saiu vencedor – como o Athletico em campo: 3 a 0. Já no desembarque em Curitiba seria a vez do atacante Lucas profetizar: “A classificação estará garantida se vencermos os três jogos que teremos na Arena”.

09/3 – Curitiba, Brasil

Quem é Emelec?

O Rubro-Negro receberia o Emelec na Baixada e não escondia a falta de informações sobre o adversário. “Não conhecemos muito sobre o Emelec, mas precisamos correr atrás do resultado e, se possível, construir um bom saldo de gols”, dizia Vadão um dia antes do duelo. O curioso é que os equatorianos eram comandados por um curitibano: Paulo Massa, radicado no Rio de Janeiro, havia feito carreira em diversas equipes cariocas – Friburguense, América, Cabofriense e Bangu.

Massa desembarcou no Equador em 1995 e conquistou dois títulos nacionais – o primeiro pelo Nacional de Quito, em 1996, e o segundo pela LDU, em 1998 – antes de chegar ao Emelec. O treinador, porém, reconhecia o desafio: “As chances de vitória são pequenas. Sou otimista, acho que daremos trabalho, mas não vendo ilusões”, disse em entrevista à Gazeta do Povo.

Nos bastidores, o interesse do Cruzeiro no meia Adriano Gabiru ganhava força. “Sou jovem, tenho toda uma carreira pela frente. Não tenho nenhuma pressa em sair do Atlético”, declarou o meia, então com 22 anos. Em campo, Massa estava certo: o Emelec vendeu caro a derrota por 1 a 0, com gol de Kléber Pereira aos 22 minutos da segunda etapa, em cobrança de falta que parou no ângulo esquerdo do goleiro Morán.

15/3 – Montevidéu, Uruguai

Surra de futebol

Marcação sob pressão era a tática adotada por Vadão para fazer frente ao Nacional em Montevidéu. “É normal equipes recuarem no início de jogo, mas nós faremos exatamente o contrário: vamos marcá-los em nosso campo de ataque”, adiantava o treinador, sem esconder a ansiedade para o duelo de líderes (ambas as equipes tinham seis pontos).

E, mais uma vez, o Athletico enfrentou dificuldades para chegar ao destino final: um atraso na conexão em Porto Alegre fez com que jogadores e comissão técnica perdessem horas na capital gaúcha. Mesmo assim, dentro de campo, El Paranaense atropelou: com apenas 18 minutos jogados, Kelly já havia balançado as redes duas vezes. O Nacional ainda diminuiu, aos 13 do segundo tempo, mas apenas cinco minutos depois Lucas definiu a vitória por 3 a 1.

No dia seguinte jornais uruguaios destacaram a vitória: “Uma surra de futebol”, publicou o El Observador, destacando ainda que o Nacional “viveu uma noite de espanto como há muito não se via”. Houve ainda espaço para ironias em outros jornais locais: “o Nacional prolongou o carnaval, caindo no samba e perdeu feio para o Atlético”.

22/3 – Curitiba, Brasil

Drama uruguaio

A semana do confronto contra o Alianza Lima, na Arena da Baixada, começou com Vadão precisando negar que deixaria o Athletico – o treinador vinha tendo seu nome especulado para assumir o Santos: “O Santos atravessa uma má fase, enquanto o Athletico faz uma campanha excelente. Mas ninguém entrou em contato comigo”, justificou o treinador.

Já para o confronto dentro das quatro linhas era Kelly quem ganhava os holofotes após a grande atuação no Uruguai. E ele não escondia a confiança: “Não sou de fazer promessas, mas se depender de mim, já estamos classificados”. Mas apesar da grande vitória na estreia contra os peruanos dessa vez sabia-se que a dificuldade seria maior. “Agora eles conhecem como jogamos e virão mais preparados”, disse Adriano Gabiru.

Gabiru estava certo: o duelo foi dramático. Mesmo com o gol de Luisinho Neto, cobrando falta, logo aos 2 minutos, o Athletico não conseguiu se impor e levou o empate ainda na primeira etapa. A vitória só veio aos 29 minutos do segundo tempo, quando Lucas recebeu passe de Kelly na pequena área para garantir a classificação rubro-negra.

04/4 – Guayaquil, Equador

Guerra de detalhes

No confronto contra o Emelec fora de casa o Athletico encararia sua viagem mais longa (13 horas). O atacante Lucas, ao desembarcar, confessou ter receio das longas viagens de avião. “Não é medo, é só desconfiança”, afirmou. E mesmo apesar do cansaço, Vadão não aliviou para os jogadores: treino em dois períodos no dia anterior ao duelo.

O clima no Equador, contudo, era de guerra: o vice-presidente do Emelec não permitiu que a equipe paranaense fizesse o treino de reconhecimento do estádio Campbell – a atitude foi uma suposta retaliação à diretoria do Athletico, que se negou a aceitar a transferência da partida para a cidade de Porto Viejo, cerca de 300km distante de Guayaquil. O motivo do pedido de alteração seria político: Omar Quintana, dirigente do Emelec, então candidato às eleições no país, havia prometido que o confronto seria em Porto Viejo para atender interesses de correligionários.

Dentro de campo, um jogo truncado, que acabou 0 a 0. E Vadão tinha a resposta para as dificuldades que o Athletico iria enfrentar dali em diante: “Após cinco jogos não há mais o fator surpresa, não há mais o que esconder dos adversários”. Vadão ainda previa os próximos passos. “Daqui para frente enfrentaremos uma guerra de detalhes”, disse o treinador após a partida contra o Emelec.

12/4 – Curitiba, Brasil

150 vezes do Pantera

Para o último confronto da fase de grupos, com o Nacional-URU, Vadão não contaria com o artilheiro Lucas, que cumpriria suspensão automática. Adauto, Silvinho e Silas disputavam a vaga – Silas seria o escolhido para iniciar o duelo, e Adauto entraria no decorrer da partida.

O jogo também marcava um momento histórico para o goleiro Flávio, que completaria 150 jogos defendendo a meta rubro-negra. “Já atravessei fases boas e ruins aqui, mas ajudei a equipe a chegar a Libertadores, então, sim, estou vivendo o auge da minha carreira”, declarou o alagoano um dia antes do duelo.

Dentro de campo, o Athletico não foi ameaçado, e controlou a partida: aos 43 minutos do primeiro tempo, após boa jogada de Kelly, Luís Carlos Goiano tocou na saída do goleiro Munúa para abrir o marcador. Na volta do intervalo, logo aos dois minutos, foi a vez de Luisinho Neto, de cabeça, ampliar o placar.

02/5 – Belo Horizonte, Brasil

Revés no Mineirão

Diante do Atlético-MG, Vadão prometia a mesma postura que classificou a equipe. “Vamos marcar sob pressão e explorar a velocidade de nossos atacantes”, prometeu o treinador. “Não podemos desperdiçar a chance de sair com um bom resultado do Mineirão”, completou o treinador, que analisava a possibilidade de escalar o meia Silas no lugar de Kléber Pereira. A escalação alternativa não deu resultado: jogando em casa, o Atlético-MG controlou a partida desde o início e abriu o marcador logo aos 25 minutos da primeira etapa.

No segundo tempo, porém, o Athletico voltou melhor, apertando a marcação e diminuindo espaços – e teve uma grande chance para empatar a partida, aos 42 minutos, com Kléber, que havia substituído Silas poucos minutos antes; o atacante recebeu na área, se livrou da marcação, mas acabou chutando para fora. Já no retorno para Curitiba, Vadão mantinha a confiança: “Temos todas as condições de reverter o resultado na Arena”.

11/5 – Curitiba, Brasil

Adeus na marca do pênalti

No confronto em Curitiba, Vadão apostava no retorno da boa fase de Kléber – o atacante havia marcado quatro gols na vitória por 5 a 3 sobre o Rio Branco de Paranaguá pelo campeonato estadual no sábado anterior ao confronto decisivo contra os mineiros.

“Ele deu a volta por cima e mostrou que pode apresentar o mesmo bom futebol do início da competição”, disse o treinador que, dessa vez, de fato recebera uma proposta para assumir o Santos – a equipe paulista aguardava a resposta de Vadão após o confronto diante do Galo. “É a segunda vez que essa notícia aparece 48 horas antes de uma partida. Parece uma sina”, reclamou Vadão.

Outra aposta para o duelo era a defesa – na Libertadores com até então a melhor média de gols desde a década de 60, o Athletico só havia levado três gols em sete partidas. O rótulo de “surpresa” também não cabia mais no discurso: “Quem pode ser considerado surpresa após estrear vencendo o Alianza, em Lima, por 3 a 0, e após bater o Nacional, no Centenário, por 3 a 1? Se chegamos até aqui é porque temos condições”, rebatia Vadão.

Dentro de campo, o Athletico chegou a estar vencendo por 2 a 0, com gols de Kelly e Luisinho Neto, ainda no primeiro tempo – resultado que lhe daria a classificação. Mas aos 34 minutos da etapa final, um gol de Marques levou a decisão para os pênaltis. Na marca da cal, os mineiros foram perfeitos, enquanto Gabiru chutou por cima do gol defendido por Velloso. Silas consolou o colega: “Ele deve lembrar que errar um pênalti não é o fim do mundo. Craques como Zico, Platini... também erraram. Mas isso agora faz parte do passado. Precisamos e vamos levantar a cabeça”.

Voltar para o índice

Cobertura da Gazeta:

Manchetes da América

Os detalhes das oito partidas do Rubro-Negro pela Libertadores da América de 2000.

Deslize para ver

Voltar para o índice

Epílogo:

O presente e o futuro de El Paranaense

Se o presente ressoa um passado bem estruturado, o futuro promete ser ainda mais bem sucedido. Para o jornalista Erich Beting, especializado em jornalismo de negócios do esporte, o clube tem uma estabilidade política única entre os times brasileiros, algo que pode ser fundamental para suas ambições em médio e longo prazo.

20 anos da primeira Libertadores do Athletico

"O clube praticamente tem um dono, que é o Petraglia”, enfatiza. “Não há como negar que essa estabilidade política ajuda demais e, com isso, a tendência de ser feito um trabalho sólido é enorme. Dos 12 grandes do país, nenhum tem condições de fazer o que o Athletico pode porque nenhum deles têm a mesma estabilidade”, complementa.

Beting atribui à qualidade de gestão do próprio conteúdo - do uso positivo das redes sociais até transmissões online - parte desse avanço, que hoje o faz definitivamente estar entre os 10 melhores times do país. “Se o clube continuar tendo essa mentalidade um pouco a frente do mercado, a tendência é que ele consiga se manter por algum tempo nesse nível”, crava.

Torcida rubro-negra lota a Baixada para empurrar o time. Crédito: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo.

Após obter os seus dois títulos em torneios de mata mata, a pergunta que fica é: o Athletico tem fôlego para ir além no Brasileirão? “Recentemente o time teve uma sacada muito boa na questão de televisão, que foi não ter o pay-per-view”, avalia Beting que aponta que assim o clube ficou como protagonista na TV aberta e conseguiu mais dinheiro. Porém, quando o assunto é patrocínio, o eixo RJ-SP ainda predomina. 

“A partir do momento em que o Athletico passa a ser um clube que exporta jogador, tem uma chance grande de aumentar sua receita”, prevê Beting.

Rony encara o Boca Juniors pela Libertadores: goleada atleticana pra cima do gigante sul-americano. Crédito: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

Carneiro Neto é outro que já vê o Furacão como uma das oito maiores equipes do futebol brasileiro no momento. "Mudou o enfoque. Dos tradicionais do Rio de Janeiro, só sobrou o Flamengo. Em São Paulo, o tricolor não vai bem e tem um estádio velho, que não dá para comparar com Allianz Parque e Arena Corinthians. Em Minas, Atlético Mineiro e Cruzeiro estão muito mal economicamente. Então, as coisas mudaram", pondera.

Perto desses times, Carneiro vê o Athletico navegando mares de tranquilidade em meio a um futuro promissor. "Nos últimos dois anos, o time conquistou títulos importantes, se posicionou e tem um patrimônio maravilhoso. A Arena da Baixada é o estádio mais moderno do país. Se o presente é animador, o futuro também o é”, conclui.

Voltar para o índice

Compartilhe!

Expediente

Reportagem: Murilo Basso. Edição: André Pugliesi. Imagens: Hoje em Dia, Jornal El Universo de Guaiaquil, Reuters; Antônio Costa, Valterci Santos, Fabrício Corrêa e Irandy Ferreira do Arquivo da Gazeta do Povo. Ilustração e design: Osvalter Urbinati.