A tragédia de um é a glória do outro
Cheryshev saiu do banco de reservas para marcar dois golaços enquanto seu companheiro de time agonizava uma saída precoce do Mundial
Augusto dos Anjos mirava na vida, mas talvez falasse de futebol quando disse que a mão que afaga é a mesma que apedreja. Porque a bola é isso, precisamente: ao mesmo tempo perversa e generosa. Hoje, como quase sempre, foi assim.
Primeiro, veio a malvadeza.
Dzagoev, o melhor dos russos e a esperança do país por um torneio digno, jogou exatos 21 minutos de Copa até que o músculo da coxa expirou. Parou de funcionar sem dar explicações, como fosse um Lada numa subida. O guri caiu feito um saco de batata na grama do Lujniki no comecinho do jogo e deixou ali o sonho de uma carreira. Foi uma reprise da Euro 2016, quando uma fissura no pé o tirou do torneio. O meia do CSKA Moscou tem ainda 27 anos mas é já um veterano das desilusões.
Pedrada dada, era hora da afagar. Veio a benesse para Cheryshev, o substituto de Alan Dzagoev. O meia do Villarreal entrou e, nos 69 minutos que teve, anotou o nome na história do jogo.
Enquanto um chorava a Copa que lhe fora amputada pelo acaso, o outro fazia do campo seu picadeiro. A tragédia de um é sempre a glória do outro.
Como Josimar – o cometa de 86, lembrado essa semana pelo Fernando Cesarotti no Puntero Izquierdo –, Cheryshev saiu do banco para entrar para a história. Foram dois gols de grosso calibre. Dois tentos produzidos à maestria, confeccionados com cuidado e ternura. Artesanato.
Mas iguais apenas nisso, porque em todo o mais foram diferentes.
O primeiro gol, filho do engodo e da mentira, foi pura malvadeza. Começou com um passe lindo, mas curto. Deu tempo de o zagueiro chegar, deitar na área e fechar todos os poros da baliza. Num átimo, o russo encontrou a única saída possível. Feito um brasileiro nas areias de Copacabana, cavou a bola, ergueu o couro no pe canhoto, e, num só gesto, deixou dois sauditas sentados na relva. Foram só três toques na bola – um único para o domínio e o drible, outro para ajeitar a bola e, por último, o do arremate: um chute embebido em ódio e outros sentimentos ruins para fazer arder cada costura da rede. De três metros quadrados, o menino fez um latifúndio.
Diametralmente oposto a esse foi o segundo gol. Em vez da raiva, a ternura. Nasceu com uma bola que lhe caiu no pé direito, toda dócil, à feição para o chute. O arqueiro, adiantado como um vale no meio do mês, convidava a bola a entrar. Mas Cheryshev não tem no pé direito precisão nenhuma. Então, lhe coube a saída dos gênios: trocou a passada e bateu com o pé de fora, o canhoto. Deu com os últimos três furos do cadarço no couro. Uma trivela sutil, uma bola sem peso, um gol em câmera lenta. A bola pedindo licença ao goleiro, suplicando perdão por ser tão bonita, por ir entrando assim, sem aviso.
E enquanto a Rússia toda aplaudia em pé Denis Cheryshev, um homem seguia sentado no banco de reservas, assistindo a tudo com uma compressa de gelo presa a uma das pernas.
O futebol é um canalha.
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