O time que queríamos ver coroado

A Croácia não levou a Copa do Mundo, mas garantiu a torcida de todos nós

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Nós temos um fraco pelos derrotados. É só alguém começar a perder que nos doemos inapelavelmente por eles, passamos a torcer pela virada como se fosse o nosso próprio time em cancha. O país da malandragem, quem diria, é também o da misericórdia. Hoje, contudo, a empatia pela Croácia foi bem além disso.

Começamos a gostar do escrete de Zlatko Dalić muito antes do primeiro apito de hoje. Talvez o gosto tenha nascido naquelas três cintadas no lombo argentino. Pode ser. Mas o fato é que não houve exatamente um lance ou um jogo – foi pelo conjunto da obra.

Essa Croácia carregada de sangue nos olhos, joga um futebol que agrada, que esquenta a alma. É a esperança pela volta do amor irrepreensível pela camisa. Os donos da prancheta dirão que eu deliro, que a França é mais aplicada, que a Bélgica golpeia melhor. E eu insisto e ainda digo o seguinte: a Croácia joga como queríamos que o time da gente jogasse. Disputa cada naco do campo como se fosse um prato de comida. Não vende sequer um palmo de grama a preço baixo.

Aqueles onze homens dariam a vida como oferta pela taça se isso resolvesse. Jogaram 3 prorrogações seguidas e somaram 90 minutos de jogo extra a mais que a França. Enquanto Les Bleus fizeram 7 jogos, os croatas fizeram 8. Foram 750 km percorridos contra 609. Um passeio entre Curitiba e Irati de diferença. A pé.

O mundo todo achou que veríamos, hoje, uma Croácia acabada, fisicamente desgastada, pequena ante a França na ponta dos cascos. Mas essa certeza foi diluída com 5 minutos de peleja, quando a camisa alvirrubra amassava os azuis. Modric dava o tom e os cavalares Mandzukic e Perisic tocavam fogo na aldeia francesa, patrocinando pesadelos em série a Varane e Umtiti. Esperávamos um time em frangalhos e encontramos gigantes a correr como se lhes tivessem tirado um grilhão dos tornozelos na noite anterior.

Acontece que o futebol tem suas canalhices. E quem mais jogava, de repente, viu Griezmann – um chacal do jogo, que fica ao redor da vítima esperando só que ela vacile – cavar uma falta na entrada da área, cruzar e conferir, via fogo amigo, o gol inaugural. Os azuis, que mal cruzavam a risca do meio campo, estavam na frente. Veio o empate e veio, então, outra malvadeza: um pênalti difícil de marcar, que divide opiniões. Bola na mão do beque, bola no fundo da rede.

Ali, a França mesmo sem jogar grande futebol, soterrava toda a entrega croata. Contra a força dos roteiristas do futebol não há resistência.

Veio o segundo tempo e os franceses, agora sim, propondo jogo, aumentaram o contador e chegaram a flertar com a goleada, que só não veio porque Lloris, carregado de arrogância, tomou o mais vexatório gol das finais da Copa do Mundo.

Talvez ali, com o fato já consumado, com a Croácia dobrada diante dos franceses, nós tenhamos todos nos entregado aos braços deles pela derrota, pela dureza da sua dor. Mas antes, muito antes, já víamos neles tudo o que queremos ver na gente.

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