Eliminação da seleção brasileira pela Bélgica é também a derrota dos “escoteiros” de Tite 

Com o treinador, também perde seu séquito de seguidores, aqueles que partiam de um princípio: ele está sempre certo! A partir dessa ideia tentavam construir justificativas e apresentar teses mais do que discutíveis como se fossem certezas inquestionáveis

Marcelo lamenta eliminação do Brasil para a Bélgica. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
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Antes do jogo Brasil 2 x 0 Sérvia, defendi a permanência de Tite no comando da seleção brasileira, mesmo se sua equipe fosse derrotada naquela partida. Sigo como o mesmo pensamento, ele merece um ciclo inteiro de Copa do Mundo e, embora não seja um dos melhores treinadores do planeta, é o mais qualificado entre os brasileiros. 

Um dos erros de Tite, fora de campo, foi permitir que sua imagem de “Messias” fosse explorada. É possível que tamanho entorno otimista o tenha prejudicado, pelas raras críticas (acredite, se bem feitas, elas ajudam), devido à defesa incondicional de tantos. Desumanizaram o treinador, catapultado à condição de senhor da razão. 

Com isso, o técnico seguiu protegendo publicamente a estrela que deveria ser protagonista, ou seja, ao invés de cobrar que assumisse mais responsabilidades, dele as retirou. Apostou em jogadores de sua confiança que corresponderam às expectativas em clube, sem perceber que duelos internacionais como os grandes jogos de Copa são diferentes. 

A derrota pode transformar Tite em um treinador melhor, fazê-lo voltar à terra firme, reencontrar incertezas, dúvidas e inquietações. Se livrar das receitas pré-fabricadas e das tais convicções que às vezes parecem mera teimosia. Como a patética distorção das prioridades de um centroavante, defendendo e mantendo o que não faz gol, apoiado em frágeis e subjetivos argumentos táticos. 

Com o treinador, perde seu séquito de seguidores, aqueles que partiam de um princípio: ele está sempre certo! A partir dessa ideia tentavam construir justificativas e apresentar teses mais do que discutíveis como se fossem certezas inquestionáveis. Foi também a derrota dos escoteiros de Tite. 

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A Bélgica, como era esperado, mudou muito em relação aos jogos anteriores. Partiu de um 4-3-3. Na defesa uma linha de quatro que virava trio de zagueiros com o recuo de Vertonghen para formar ao lado de Kompany e Alderweireld. Meunier se transformava em ala pela direita e Chadli, inicialmente meia com Fellaini e Witsel, abria na esquerda. 

Recuado em jogos anteriores, De Bruyne atuou na frente, variando entre a direita e o centro do campo no revezamento com Lukaku. Na canhota, o óbvio duelo com Hazard em cima de Fágner, num banho de bola que deve causar pesadelos no lateral brasileiro. Funcionou, com a qualidade técnica que faltou ao México resolvendo para a Bélgica. 

O Brasil perdeu para um ótimo adversário. Surpreso ficou quem deu ouvidos às falsas análises, aos comentários vazios, desinformados, contaminados pelo torcer. Os belgas têm time para eliminar a França e ganhar a Copa. Se você não imaginava a possibilidade de uma derrota brasileira, no próximo Mundial desconfie do que ouve e lê por aí. 

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Escolhido de Tite, Gabriel Jesus foi titular nos cinco jogos do Brasil na Copa. Não fez gol e deu uma assistência sem querer, quando tentou dominar, não conseguiu e a bola sobrou para Philippe Coutinho abrir o placar contra a Costa Rica. Perdeu um par chances contra a Bélgica no primeiro tempo, aos 14 e aos 35 minutos. Ao todo somou nove finalizações no Mundial, uma no alvo.

Cavou pênalti na etapa final e logo depois saiu. Óbvio que o jovem atacante não estava pronto para tal missão. Como, evidentemente, executar bem as “funções táticas” não era o bastante. Quem sabe em 2022 tenha nova oportunidade e seja não só “tático” como também um bom centroavante, preparando jogadas para os companheiros e, claro, fazendo gols.

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