Apesar da chatice de Tite, seleção brasileira tem tudo para avançar

Empate basta no duelo contra a Sérvia, mas Brasil corre risco de eliminação como não acontecia numa fase de grupos de Copa do Mundo desde 1974, na Alemanha

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“A matilha precisa do lobo, e o lobo precisa da matilha. O conjunto de lobos não é matilha, é alcateia”. A frase enigmática de Tite na coletiva de véspera da partida decisiva da seleção brasileira contra a Sérvia é um exemplo do quão estranho pode ser o mundo dos boleiros. Que diabo ele quis dizer? Qual a necessidade dessa pirotecnia verbal? Que necessidade de ouvir esse tipo de coisa têm jogadores que participam de alguns dos mais caros elencos do futebol mundial?

Mas funciona assim. Mesclada à sua decantada, e comprovada, competência, o pacote do treinador traz supostas reflexões que, como diria Chacrinha, são típicas de quem veio para confundir, não para explicar. Além de matilhas e lobos, Tite usou de seu peculiar vocabulário para defender arduamente sua estrela. Fica evidente que o técnico da CBF não se candidata a enquadrar o mimado jogador, ele opta pelo carinho, na expectativa de que baste para mudar de comportamento. Controversa opção.

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Afinal, não é possível que Tite esteja satisfeito com o comportamento e o desempenho do craque. Ou seria possível? Nesse mundo maluco de matilhas de lobos, pautado por frases desconexas que parecem roteiro de programa humorístico, talvez o comandante se dê por satisfeito com o que viu. Mas para alcançar os objetivos brasileiros no Mundial, obviamente o que Neymar fez até agora não basta. O Brasil pode avançar, independente disso tudo, mas o título cobrará mais do que simulações, chororô e verborragia.

A Sérvia precisará vencer, ao Brasil basta o empate para se classificar. Mas isso não significa que a seleção da ex-Iugoslávia irá sair para o jogo, agredindo o Brasil. Os desarmes sérvios se concentraram em maioria no campo de defesa. Mitrovic, atacante do Newcastle, ajuda a recuperar a bola no combate à saída de bola. As finalizações são forçadas nele, um enorme pivô, na região entre a marca do pênalti e a pequena área.

Nos seus dois primeiros jogos pelo Mundial (1 a 0 sobre a Costa Rica e derrota por 2 a 1 para a Suíça), a Sérvia atuou mais o lado direito. O apoio de Ivanovic, lateral que fez longa carreira no Chelsea, tem a parceria do bom Tadic, atleta do Southampton. É o setor de Marcelo. Mas Kolarov, ex-Manchester City e hoje na Roma; tem sua forte bola parada como ameaça pela esquerda. Ele fez, de falta, o tento da única vitória de sua equipe na Rússia.

Mesmo precisando vencer, tudo indica que a Sérvia será precavida, ciente de que o Brasil naturalmente tentara assumir o jogo, por mais que os jogadores de Tite formem uma equipe que gosta de sair com velocidade, e espaço, da defesa para o ataque. É esse campo que os sérvios deverão negar aos brasileiros, agredindo em busca do gol necessário sem se expor, seria quase suicídio.

O duelo é perigoso para o Brasil, que desde 1974 não chega a uma fase de grupos tão ameaçado de eliminação tão precoce. A seleção da CBF não cai nesta etapa de um Mundial desde o certame de 1966, há 52 anos, na Inglaterra, quando ela ainda era CBD. O alerta está ligado e o risco é real. Em tempo: segundo o dicionário Aurélio, a palavra matilha também pode ser entendida como um sinônimo de alcateia. Em suma, tanto faz.

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Na coletiva da seleção ninguém perguntou ao Tite sobre a situação de Renato Augusto e Fred, que se lesionaram; o primeiro já estava machucado quando feita a convocação. Ambos mais importantes após a lesão de Douglas Costa. Mas perguntaram sobre meu ídolo na torcida brasileira, o Canarinho Pistola. Essa relação entre a seleção e parte da imprensa é um capítulo à parte.

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TANGO — Clichê obrigatório, a classificação argentina no ritmo de sua música. Dramática, emocionante, beirando a tragédia. Mas vamos à realidade nua e crua. Com linha de quatro defensores e jogadores em suas verdadeiras posições, Jorge Sampaoli montou um time mais racional e o primeiro tempo comprovou isso. O empate da Nigéria em pênalti absurdamente marcado fez, de novo, o time sul-americano se desesperar. Chegou a vitória no abafa, após mudanças um tanto tresloucadas de seu treinador. Venceu a Argentina. Sobreviveu na Copa do Mundo, mas é preciso mais para enfrentar a França no sábado ou pode sofrer derrota, goleada talvez.

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