Na Copa do Mundo, alguns sons são maiores que o grito de gol
Pela primeira vez na história, o hino nacional do Panamá tocou em uma partida do Mundial
Os 90 minutos são só parte do jogo. Nunca o todo. Porque o que acontece antes de a bola rolar e o que se desdobra depois são pedaços fundamentais de uma narrativa maior – são o contexto pra entender o quadro completo.
Assim, quem viu só a bola rolando de Bélgica vs Panamá viu da missa a metade, se tanto, já que nem um dos gols de Lukaku nem o passe de trivela do Marcador foram mais sublimes do que o hino nacional do Panamá.
Gols vemos aos borbotões, de todas as cores, cheiros e gostos, mas o hino de um país tocar pela primeira vez em uma Copa do Mundo é artigo raro, coisa de beleza admirável, de simbologia única.
E foi isso que o pré-jogo nos trouxe ontem: uma cena imensa, de homens de braços dados uns com os outros, se desmanchando ao som da música. Era como se cada acorde lhes afrouxasse o peito e fizesse mostrar mais e mais a alma que se guarda lá dentro.
Um deles, Román Torres, herói da classificação comovente aos 42’ do segundo tempo do último jogo das Eliminatórias, nem o choro segurou. Aguou ali, no meio do campo, talvez porque não pudesse resistir, talvez porque quisesse que o mundo inteiro entendesse o tamanho daquele momento pra ele e outros 3.5 milhões de panamenhos.
“Alcanzamos por fin la victoria, en el campo feliz de la unión” bradavam os jogadores. Uma letra que conta as glórias do país, mas que não deixa de também expressar a chegada naquela cancha, o trajeto duro até o Mundial. Para eles, aquilo dali já é a vitória. Bater a Bélgica seria um delírio. Passar às oitavas, uma quimera. A verdade é que Copa do Mundo do Panamá é viver cada pedacinho do jogo, sorver todo detalhe como se fosse não o primeiro, mas o último.
Porque ninguém sabe quando vai aparecer outro Román Torres para patrocinar mais uma cruzada e levar o país por uma nova epopeia. Ou, se acontecer de aparecer outro paladino, não será mais a primeira vez. E então, tudo será diferente.
Que os panamenhos aproveitem a jornada. E que chorem a cada hino. Na Rússia, em casa, entre dois oceanos. A andança é melhor do que a chegada.
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